São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 1996
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"Dois Crimes" confronta sexo e corrupção

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Dois Crimes" confronta sexo e corrupção
"Dois Crimes", do diretor estreante mexicano Roberto Sneider, conta, na verdade, uma porção de crimes -e é, ele próprio, um entrelaçamento de vários gêneros de filmes.
Tudo começa com um tema hitchcockiano por excelência: o da transferência de culpa. O engenheiro civil Marcos Gonzales (Damian Alcazar) e sua namorada Carmen fazem sexo depois do expediente na firma em que trabalham e são acusados de um assassinato ocorrido no prédio.
Eles fogem da Cidade do México, e aí começa toda uma outra história. Enquanto Carmen vai "dar um tempo" em casa de parentes, Marcos procura um tio rico e lhe propõe um fictício negócio de mineração.
Hostilizado mais ou menos abertamente pelos primos, que querem afastá-lo da herança do tio, Marcos acaba se envolvendo, nelsonrodrigueanamente, com duas primas (mãe e filha).
O problema do crime de que o casal Marcos-Carmen é acusado -e que evolui para uma acusação de terrorismo- fica praticamente esquecido até quase o final.
O interessante desse "imbroglio" todo são as bruscas mudanças de registro, entre o suspense, a comédia e o erotismo.
O diretor Roberto Sneider às vezes parece à beira de perder o controle do câmbio, mas é só uma estratégia para aumentar o grau de surpresa e imprevisibilidade da trama, baseada em romance de Jorge Ibarguengoitia.
O que dá sentido e consistência a essa narrativa bamboleante é a compreensão de que as forças que movem todo o drama são a paixão (sobretudo erótica) e a corrupção.
As mesmas forças, aliás, que mantêm o México em constante ebulição.
Distante da macumba para turista oferecida por um "Como Água para Chocolate", "Dois Crimes" dá ao espectador um retrato generoso, desordenado e imperfeito de um país idem.

Filme: Dois Crimes
Produção: México, 1994
Direção: Roberto Sneider
Com: Damian Alcazar, José Carlos Ruiz, Pedro Armendariz e Dolores Heredia Cinema: Espaço Unibanco 2

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