São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 1996
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Homem moderno conviveu com ancestral

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A datação de um sítio arqueológico na Indonésia revelou que durante um período da pré-história humana pode ter havido a convivência entre o homem moderno (Homo sapiens) e um ancestral considerado bem mais primitivo, o Homo erectus.
A descoberta surge depois que, em maio passado, outros pesquisadores anunciaram que também teria sido possível a convivência entre o homem moderno e outro "primo" pré-histórico, o homem de Neanderthal.
Ou seja: existe a hipótese de que durante milhares de anos a Terra foi habitada por três espécies distintas de seres humanos, diferentes entre si na capacidade do cérebro e na visual.
O Homo neanderthalensis era mais atarracado, com uma testa saliente; já o Homo erectus era ainda mais testudo, com uma cabeça chata e dentes protuberantes. É provável que eles fossem mais peludos do que o homem moderno.
"Como hoje nós só temos uma espécie de homem, muitos tendem a imaginar que no passado também era assim. Ninguém pára para pensar que poderia ter sido diferente. Já se conhecem diversas espécies diferentes de um outro ancestral ainda mais antigo, o Australopithecus, por exemplo", disse à Folha o líder da equipe de pesquisa, o geólogo Carl Swisher, do Centro Berkeley de Geocronologia, Califórnia, EUA.
O artigo descrevendo a pesquisa, assinado por sete cientistas dos EUA, Canadá e Indonésia, é publicado hoje na revista "Science".
As datações indicam que o Homo erectus teria vivido na Indonésia de 53 mil a 27 mil anos atrás -ou seja, 250 mil depois da sua aparecimento mais recente no registro fóssil da Ásia, ou 1 milhão de anos depois de ter aparecido pela última vez na África. O ser humano moderno surge no registro fóssil entre 120 mil e 100 mil anos atrás. E um osso de bebê Neanderthal foi datado em meros 34 mil anos atrás.
"Existem apenas alguns poucos fósseis no Oriente Médio que indicam, pela sua aparência híbrida, que teria havido cruzamento entre humanos modernos e neanderthais. Tudo são conjecturas", afirma Swisher.
"O tamanho era parecido. Se você vestisse um Homo erectus com roupas modernas, veria que não seria tão fácil distingui-lo", diz o pesquisador. "Eu já vi uns jogadores de futebol que não seriam muito diferentes", diz, rindo.
A descoberta tende a atrair polêmica, porém, pois a datação foi feita de modo indireto, através de dentes de animais na mesma camada onde estavam os ossos de hominídeos, pois os indonésios não permitiram que fossem retiradas pequenas lascas dos crânios humanos para se fazer a datação diretamente.

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