São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 1996
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Motta quer obras com dinheiro de estatais

MÁRCIO DE MORAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Sérgio Motta (Comunicações) defendeu ontem que o dinheiro a ser obtido com a venda da Telebrás não seja usado no abatimento da dívida pública, como quer a área econômica do governo.
"Não compartilho com a idéia de vender a Telebrás para pagar um ano e meio de juros da dívida interna", disse.
Motta defende a criação de um fundo, destinado a melhorar a infra-estrutura nacional.
Em documento divulgado em outubro, o governo afirmou o compromisso de usar o dinheiro das privatizações para abater a dívida federal (R$ 169,306 bilhões, em outubro).
Hoje, porém, já há uma polêmica, devido à privatização da Companhia Vale do Rio Doce, marcada para o primeiro trimestre de 97.
Além de enfrentar resistências políticas à operação, o governo tem sido pressionado pelos governadores a destinar os recursos obtidos a obras nos Estados.
Está em negociação uma solução intermediária, pela qual a economia gerada com o abatimento da dívida pública geraria recursos que seriam investidos nos Estados.
Imperialismo
Durante três horas, em entrevista destinada a detalhar o projeto da Lei Geral das Telecomunicações, Motta fez críticas a governos anteriores, mostrou que possui divergências em relação ao atual e atacou até a OMC (Organização Mundial do Comércio).
"A reunião da OMC (que aconteceu durante a semana em Cingapura) é a mais forte expressão do -vou usar uma expressão que não uso há 15 anos- imperialismo econômico", disse.
Motta afirmou ter se inspirado na prática norte-americana ao limitar em 49% a participação de estrangeiros na abertura do mercado de telefonia. Os EUA, segundo o ministro, adotam "discurso liberal e prática protecionista".
Discordância
Motta disse que discorda das regras atuais para alíquotas de II (Imposto de Importação) para equipamentos prontos (zero) e de peças e componentes (20%) na área de telecomunicações.
Para ele, as alíquotas deveriam ser invertidas, pois, como estão, estimulam a importação de equipamentos prontos, o que sai caro e cria empregos no exterior.
"Já conversei com o (Francisco) Dornelles (ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo) e vamos mudar isso no ano que vem", prometeu.
Disse ter encontrado o ministério abarrotado de processos (cerca de 16 mil) relativos à outorga de concessões de serviços de telecomunicações, que agora estão tendo uma solução, com a cassação ou o aceite da devolução.
Para ele, o objetivo dessa política era "criar dificuldade para vender facilidade".

LEIA MAIS sobre a entrevista do ministro Sérgio Motta à pág. 2-3.

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