São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 1996
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Livro traz textos de Cecília na imprensa

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O lançamento de "A Farpa na Lira", pesquisa sobre a colaboração de Cecília Meireles na imprensa do Rio de Janeiro nos anos 30, faz de 1996 um ano de justas lembranças da poeta carioca.
Só neste ano, foram lançados três inéditos de Meireles (todos pela Nova Fronteira): "Cecília e Mário", volume de poesia e correspondência entre ela e Mário de Andrade, "Oratório de Santa Maria Egipcíaca" e "Poemas Chineses".
Em "A Farpa na Lira", a pesquisadora Valéria Lamego reúne e analisa a produção jornalística de Cecília Meireles, em colaboração de três anos (1930-1933) com o jornal "Diário de Notícias".
Cecília Meireles (1901-1964) foi também professora primária, além de ter ensinado literatura brasileira nas universidades do Distrito Federal e do Texas.
Essa experiência na área da educação foi a mola da "Página de Educação", editada por ela no "Diário de Notícias".
Lamego observa que foi como professora e educadora interessada na "Escola Nova" que Cecília Meireles juntou-se ao Grupo do Manifesto, que assinou, em março de 32, o "Manifesto da nova Educação ao Governo e ao Povo".
Opositora de Getúlio Vargas e do nacionalismo estreito da Revolução de 30, a poeta criticava, em artigo de 1931, a instituição do ensino religioso nas escolas.
"O sr. Getúlio Vargas, assinando o decreto antipedagógico e anti-social que institui o ensino religioso nas escolas, acaba de cometer um grave erro. (...) É justamente em atenção aos sentimentos de fraternidade universal que a escola moderna deve ser laica."
Contundente e humanista, o jornalismo de Meireles ultrapassou as fronteiras da educação, ou do "novo idealismo educacional", e se ocupou de temas de interesse geral da sociedade, ainda atuais.
Nas páginas do jornal, ela também deixou registrada sua contribuição pessoal -de excelente poeta e pensadora- em assuntos como arte, revolução, feminismo, racismo, divórcio, ética, imprensa, nacionalismo e paz universal.
O livro de Valéria Lamego compila também momentos da correspondência de Cecília Meireles com o educador Fernando de Azevedo. Numa dessas cartas, Meireles confessa sua decepção com a educação e sua opção pelo jornalismo.
"Os tempos e as criaturas ainda não mudaram (...). E o vivo sentimento da minha ineficiência em qualquer escola, pelo conhecimento direto da atmosfera que me cercaria, levou-me à ação jornalística, talvez mais vantajosa (...) -porque é uma esperança obstinada esta, que se tem, de que o público leia e compreenda..."
Cecília Meireles atuou como jornalista até a década de 60, quando colaborava para a Folha.

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