São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 1996
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União e Olho Vivo traz marujada a SP

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

1996 vai ficar na história do Teatro União e Olho Vivo, que apresenta neste fim-de-semana, na sede do grupo, a peça "Us Juãos i os Magalis".
Em fevereiro, a companhia comemorou 30 anos de existência. Em setembro, foi homenageada no Festival Internacional de Teatro do Cairo e, dias depois, se apresentou para o papa, em Roma.
Criado a partir da fusão de um grupo de alunos de direito da USP (Universidade de São Paulo) com a companhia Teatro Casarão, formada por bancários, office-boys etc., o Teatro União e Olho Vivo trabalha com elementos da cultura popular.
O espetáculo "Us Juãos i os Magalis", por exemplo, é baseado na chegança de marujos, manifestação folclórica típica do Nordeste e Sul do Brasil.
Também chamada de marujada ou nau catarineta, conta, por meio de danças e músicas, a luta territorial entre cristãos e mouros. Sua origem data da Idade Média, na Itália e Península Ibérica.
Na montagem do Olho Vivo, a batalha religiosa foi substituída por um episódio ocorrido em Ilhéus em 1907.
Financiado por empresários norte-americanos e liderado pelo gaúcho Sebastião Magali, um grupo de mercenários estrangeiros tentou invadir o litoral baiano, com o objetivo de transformá-lo em uma república separatista.
A invasão foi controlada por soldados brasileiros, que mataram ou prenderam os rebeldes.
"Como o governo brasileiro não queria se comprometer com os EUA, essa história foi amoitada pelas autoridades", contou à Folha o diretor César Vieira.
Para reproduzir no palco a saga de Magali, o grupo se debruçou em depoimentos, livros e documentos da época durante meses.
O texto foi escrito pelos 18 integrantes da companhia, que conta com advogado, enfermeira, professor, entre outros.
A coordenação dramatúrgica ficou por conta de Vieira, um dos fundadores do Olho Vivo.
Arte e sociedade
Um dos objetivos do Olho Vivo é "usar a arte para melhorar a sociedade", nas palavras do diretor.
O grupo se apresenta aos sábados e domingos em bairros da periferia de São Paulo, onde não cobra ingressos.
Para sobreviver, vende suas peças para prefeituras do interior do Estado, escolas e associações.
"Como diz aquela música do Milton Nascimento, o artista tem de ir onde o povo está", define Vieira.
O Olho Vivo volta a se apresentar em São Paulo a partir de março do próximo ano.

Peça: "Us Juãos i Os Magalis"
Direção: César Vieira
Com: Teatro União e Olho Vivo
Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 20h
Onde: Teatro União e Olho Vivo (r. Newton Prado, 766, Bom Retiro, SP, tel. 220-1001
Quanto: grátis

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