São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996 |
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Gilberto Freyre é discutido na Sorbonne
BETINA BERNARDES
O fim-de-semana na mais prestigiada universidade francesa foi marcado por uma jornada de estudos em torno do tema "Ideologias Coloniais e Identidades Nacionais nos Mundos Lusófonos - Estudos sobre o Lusotropicalismo". A idéia do lusotropicalismo nasceu da obra do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre. O sociólogo publica um livro de ponta nos anos 30, "Casa Grande e Senzala". A partir dos anos 50, Freyre tem uma obra mais claramente ideológica, em que vai propor que o modelo do que ele chama de harmonia racial brasileira seja exportado a todos os países de língua portuguesa. Pela idéia do lusotropicalismo, seriam criados vários "Brasis", sobretudo na África, várias "democracias raciais". Essa proposta é feita no momento em que a África passa por um processo de descolonização. O bar Bodega chegou à mesa de discussões por meio da intervenção da antropóloga da USP Lilia Moritz Schwarcz, única brasileira a participar da conferência como expositora. Estiveram presentes sobretudo acadêmicos franceses, portugueses e africanos. Schwarcz estava praticamente sozinha na tarefa de mostrar como o mito das três raças (o papel formador de brancos, negros e índios) não é original de Freyre, mas uma "ladainha" que vem sendo contada praticamente desde a descoberta do país. E estava sozinha também para combater uma certa "visão congelada" do Brasil. "Cobrei nas intervenções essa visão meio caricata que existe, como se o país estivesse parado no tempo e não mudando e se alterando", disse a antropóloga. "Tentei mostrar que na verdade há uma estrutura que se repete e que se altera ao mesmo tempo e lembrei que existem muitos Brasis, que o da Bahia não é o mesmo de São Paulo." Schwarcz retomou a questão do racismo cordial brasileiro, e foi aí que entrou o crime do bar Bodega. "Houve, num primeiro momento, a prisão de três pessoas negras. Essas pessoas foram soltas e outras, brancas e sim culpadas, foram presas", disse a antropóloga. "Esse fato passa batido no nosso país e ninguém comenta. Usei o fato para dizer que no Brasil convivem duas imagens, o racismo invisível, o preconceito de ter preconceito, e a idéia da convivência de cultos e de religiões." A antropóloga se disse admirada pelo interesse na discussão Brasil-Portugal-África, "que mal e mal começa no Brasil e que eles estão realizando aqui". "É importante mostrar que a crítica ao mito da democracia racial não está sendo feita aqui da França para o Brasil, é um debate que também realizado lá." Texto Anterior: Biografia apresenta Tom Jobim místico Próximo Texto: SBT ainda mantém coerência em seu estilo Índice |
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