São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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Grupo abandona sonoridade pop e voa alto

CAMILO ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Prepare-se para um choque com o novo álbum do Blur. No seu quinto trabalho, a ser lançado em janeiro, o grupo inglês abandonou sua conhecida sonoridade pop, calcada em bandas inglesas clássicas como Kinks, Madness e XTC. E se lançou em vôos bem mais altos e ambiciosos.
O Blur está irreconhecível: faixas com iradas guitarras punk, vocais modulados na linha Beck, instrumentais cavernosos, influências de punk, dub e eletrônica experimental, letras intimistas e pessoais.
A primeira faixa é a mais "convencional", um pastiche de Beatles com toques de Can chamado "Beetlebum". É o mais próximo que o CD chega de um hit.
A partir da segunda música é que começa a viagem rumo a um mundo bizarro, torto, neurótico e porra-louca do Blur que poucos associariam com a animação de hits anteriores, como "Girls and Boys".
"Song 2" oscila entre Nirvana bruto e Cure do começo, trazendo um Damon Albarn muito bravo no vocal. Aliás, o vocalista parece se desdobrar em vários ao longo das faixas do disco.
Partes do vocal em "Movin' On" remetem a, acredite se quiser, John Lydon (vocalista dos Sex Pistols). Já em "Death of a Party", Albarn está melancólico como o melhor de Morrissey.
Por outro lado, em "Essex Dogs" ele deixa toda a mensagem a cargo do instrumental sombrio. Vale notar que é a única faixa com referência a "inglesismos" (Essex é uma área suburbana de Londres, de onde saiu a banda), marca registrada de antes que o Blur abandonou no resto desse CD.
Uma das melhores músicas é "Theme from Retro", um instrumental carregado de sombrios órgãos Hammond pontuado por gritos distantes. É uma das faixas com efeito mais perturbador. Parece ser influência direta dos retiros regulares que Albarn tem feito no último ano na longínqua Islândia.
O Blur merece todo respeito pelo novo CD. É o melhor de sua carreira. A banda foi esperta o suficiente para perceber que a melhor forma de dar a volta por cima da mediocridade em que atolou boa parte do britpop era a dissociação total e a aventura pela inovação.
Nesta década em que o rock se revelou mais reacionário do que nunca, em que grupos são elogiados por baterem ano após ano na mesma tecla (Oasis, Green Day, R.E.M.), só a iniciativa do Blur já é animadora.
Mas, quando o resultado final é excelente como este, é como se tivessem acendido um holofote no fim do túnel.

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