São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996 |
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Bertolucci pratica exercício do olhar
MARILENE FELINTO
"Beleza Roubada" é a história de uma jovem americana de 19 anos, que, após a morte da mãe, vai ao encontro de amigos desta na Itália. Ali, a jovem Lucy (Liv Tyler) entra em contato com a experiência da perda (da mãe e da virgindade) e da autodescoberta. Em entrevista por ocasião do lançamento, Bertolucci disse que pretendia atingir "um elemento que sempre me tocou na literatura americana: a força física dos pioneiros presente nas mulheres que partiam para a Europa". Mas não é bem isso o que se vê surgir da deslumbrante fotografia da Toscana, da paisagem por onde o cineasta pôs a desfilar seus personagens -uma comunidade de artistas que vive ali dedicada à arte e "protegida" da interferência vulgar das antenas de televisão. Se há algo de literário nessa produção, é a espécie de Lolita que Bertolucci, aos 56 anos, vai construindo com sua heroína, para deleite de todos os olhares. Todos olham e querem moldar (ou roubar) a beleza de Lucy. Na comunidade da Toscana, o artista Ian (Donal McCann), que vai esculpir o busto de Lucy, insiste, como se quisesse devorar a moça: "Deixe-me olhar para você". É também da beleza de Lucy que um escritor e doente terminal (vivido por Jeremy Irons) tira forças para alegrar seus últimos dias. Nessa espécie de apologia da arte e da pureza contra a vulgaridade e a doença, os personagens de Bertolucci, uma gente meio blasé, meio afetada, parecem perdidos numa mistura de impressões que não se definem. Mas esse defeito se dissolve no filme estranho, que talvez queira apenas praticar o exercício do olhar (e da fotografia, portanto, em que Bertolucci é mestre). Filme: Beleza Roubada Direção: Bernardo Bertolucci Elenco: Jeremy Irons, Liv Tyler Lançamento: Top Tape (011/826-3066) Texto Anterior: Idade Média volta em dois novos títulos Próximo Texto: Os mais retirados da semana Índice |
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