São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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Oposição da Sérvia rejeita novo pleito

Líder quer vitória reconhecida

LUCIA MARTINS
ENVIADA ESPECIAL A BELGRADO

O líder da oposição sérvia, Vuk Draskovic, rejeita a idéia de que as eleições municipais sejam realizadas de novo nas cidades em que o pleito de 17 de novembro último foi anulado pelo presidente Slobodan Milosevic.
"Não aceitaremos nada do governo. Só vamos parar os protestos quando houver o reconhecimento total da nossa vitória nas eleições", disse Draskovic, 54, à Folha.
A hipótese de refazer o processo eleitoral nas 17 cidades onde a oposição venceu inicialmente foi admitida ontem pela primeira vez pelo ministro das Relações Exteriores, Milan Milutinovic.
O ministro afirmou que, se a comissão da OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa) provar que realmente houve irregularidades nessas cidades, o governo aceitará a decisão.
"Chamamos a OSCE porque queremos mostrar que temos razão. Se depois de uma investigação séria eles provarem que houve problemas, faremos novas eleições", disse ontem durante uma entrevista coletiva.
Uma comissão liderada pelo ex-premiê espanhol Felipe González deve chegar hoje a Belgrado para começar as investigações.
33º protesto
Na manhã de ontem, cerca de 30 mil estudantes participaram ontem do 33º dia consecutivo de manifestações em Belgrado.
Um grupo de estudantes vindos da cidade de Kragujevac (120 km ao sul da capital) se juntou à manifestação. Eles pretendem entregar uma carta ao presidente Milosevic, pedindo que ele volte atrás na anulação do pleito.
À tarde, foi a vez da coalizão Zajedno (Unidos), que agrega os partidos de oposição da Sérvia, reunir cerca de 200 mil pessoas em seu protesto.
Draskovic disse durante o protesto ter informação de que o governo estaria disposto a reconhecer a vitória da oposição em todas as cidades, exceto em Belgrado, onde haveria um novo pleito.
O líder oposicionista afirmou que, aparentemente, a proposta faz parte de um acordo entre Milosevic e a comissão da OSCE.
"Não há missão que possa forçar-nos a renunciar a nossas reivindicações", disse Draskovic.
Cansado das manifestações, que fecham as ruas e paralisam Belgrado há mais de um mês, o vice-presidente do Partido Socialista (o mesmo do presidente), Bosko Perosevic, disse ao jornal estatal "Borba" que os manifestantes estão incomodando os cidadãos sérvios e atrapalhando a economia.
"Alguma coisa tem de ser feita para que o cidadão seja protegido", disse Perosevic.
O ministro das Relações Exteriores, no entanto, negou que o governo esteja pretendendo tomar alguma providência contra os manifestantes.
"A situação será resolvida automaticamente. Eles saberão a hora de parar de cantar", afirmou.
Milutinovic não quis fazer comentários sobre a decisão do presidente sérvio de não acatar a determinação da Justiça, que mandou o governo voltar atrás na anulação das eleições na cidade de Smederevska Palanka.

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