São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 1996
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Técnica usa 'vaidade' na Superliga

Mulher comanda equipe

SÉRGIO KRASELIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A paranaense Farid Giraldi conseguiu entrar para a elite do vôlei feminino brasileiro.
Depois de conduzir o Londrina/Ametur à conquista de uma vaga para disputar a Superliga feminina, Farid, que preferiu não revelar a idade, é a única mulher entre os dez treinadores que brigam pelo título brasileiro da temporada.
"Não é fácil dirigir um time só de mulheres, apesar de levar alguma vantagem sobre os homens. Por ser mulher consigo entender mais o que se passa com as jogadoras", diz Farid.
Na visão da treinadora, que admite ser uma mulher vaidosa, para obter um bom rendimento, nada melhor do que "captar a sensibilidade feminina".
"Mulher muda muito e, cada dia, está de um jeito. Mulher é volúvel, principalmente no humor", reconhece Farid, que, por isso, acaba tendo o desafio de treinar um "novo" time todos os dias.
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Folha - Como e onde a senhora iniciou a sua carreira no vôlei?
Farid Giraldi - Não precisa me chamar de senhora (risos). Comecei jogando como atacante aos 16 anos, mas nunca pensei que iria ficar no vôlei. Eu queria fazer odontologia, não consegui. Parti para a educação física.
Folha - Quando foi a sua estréia como técnica?
Farid Giraldi - Foi em 1985, em Londrina, onde passei a dirigir uma escolinha de vôlei. Mas até 1989 atuei como jogadora pelo Londrina Country Clube, onde atualmente sou supervisora e técnica do time de vôlei adulto.
Folha - É mais fácil para uma mulher dirigir um time feminino?
Farid Giraldi - Existem algumas vantagens. Por ser mulher consigo entender mais o que se passa com as jogadoras. Consigo captar mais a sensibilidade feminina. Mulher muda muito e cada dia está de um jeito. Mulher é muito volúvel, principalmente no humor.
Folha - Como você lida com a variação de humor de suas atletas?
Farid Giraldi - Em primeiro lugar, é preciso entender que o atleta em si é uma pessoa diferente. Tem particularidades que o separam das pessoas que exercem outras profissões. Acho que consigo lidar bem com isso pois sei que todas as jogadoras são sensíveis.
Folha - Você se classifica como uma técnica linha-dura ou liberal?
Farid Giraldi - Acho que consigo ser maleável. Mas não permito atraso. O horário é sagrado.
Folha - Das dez equipes que disputam a Superliga feminina, nove são comandadas por homens. O que você pensa a respeito?
Farid Giraldi - Acho que existe um certo receio por parte das mulheres. O homem é mais solidário com o homem, e a mulher é mais receosa nesse ponto. Mas nunca me senti discriminada.
Folha - Qual o objetivo do time de Londrina no torneio?
Farid Giraldi - Torcer para não sermos rebaixadas logo no primeiro ano em que a gente entra na divisão principal (risos).
Folha - Tem homem no time?
Farid Giraldi - Lógico. Meu auxiliar e o preparador físico são homens e me obedecem.
Folha - Como você concilia o papel de mãe, mulher e técnica?
Farid Giraldi - É o lado mais complicado. Quando viajo, ninguém pergunta para o técnico homem com quem fica os filhos dele.
Para mim é a primeira pergunta. A mulher sempre vai ser identificada com o papel de mãe e dona de casa. Mas meu marido dá uma força, especialmente para cuidar dos nossos dois filhos.
Folha - Você pratica outro esporte além do vôlei?
Farid Giraldi - Sim. Corro todos os dias. Preciso manter meus 60 kg pois tenho 1,64 m (risos).
Folha - Como você lida com a torcida que acaba sempre xingando o treinador quando o time perde?
Farid Giraldi - Aprendi a aceitar ser chamada de mulher burra (risos). É um rótulo, e já aprendi a conviver com ele.

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