São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 1996
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Painel antropofágico de Sérgio Ferro conta história de Curitiba

CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

O que teriam em comum o cineasta John Ford, o artista renascentista Raffaello Sanzio, uma gralha azul, um pelourinho e um pinhão?
Esses são alguns dos elementos do painel que Sérgio Ferro inaugurou na quinta-feira passada, no teto da capela do Memorial da Cidade, em Curitiba.
Radicado na França há 24 anos, o artista plástico, arquiteto e professor de história da arte da Universidade de Grenoble realizou o painel, encomenda do prefeito de Curitiba, Rafael Greca, costurando influências pessoais e ícones da história paranaense.
Ford e Sanzio são alguns dos personagens que compõem o panteão do curitibano Ferro, assim como os artistas Michelangelo (1475-1564) e Caravaggio (1571-1610).
Todos eles aparecem no painel representando figuras que participaram do desenvolvimento curitibano. John Ford está montado em um cavalo, homenagem aos tropeiros; Rafael, que está sentado, desenhando, alude aos projetistas da cidade; Michelangelo aparece em duas citações: a estátua "Davi" (1504), considerada uma de suas obras-primas, representa o Tindiquera, personagem mítico curitibano, e o artista renascentista aparece com um pacote volumoso atrás do pescoço, "carrega a cidade nas costas".
Sérgio Ferro explica que a arte das citações faz parte da cultura latino-americana. "Somos antropofágicos. Recebemos influências, mastigamos e engolimos."
Ferro elenca Oswald e Mário de Andrade, pais do antropofagismo brasileiro, e o escritor argentino Jorge Luis Borges como exemplos de grandes "citadores" latinos.
Molduras históricas
Como espécie de molduras para os personagens históricos e míticos, aparecem a gralha azul, símbolo do Paraná, um pinhão, semente que representa Curitiba, e um pelourinho, monumento que tipifica a emancipação da cidade.
As 16 imagens que compõem o painel de Ferro foram dispostas no teto da capela em vários planos. Alguns "personagens" aparecem com a silhueta recortada, técnica que confere dinâmica ao trabalho do artista.
Na parte de baixo do painel figura uma Nossa Senhora sorridente, com menino no colo, outra citação à pintura renascentista. A modelo para a imagem não foi tema de nenhum artista italiano ou cineasta norte-americano. Ela foi retratada com a feição da esposa do artista. Segundo Greca, Ferro não quis retratar a morte de Jesus. "Ele disse que iria sofrer demais com isso", conta o prefeito.

O jornalista Cassiano Elek Machado viajou a convite da Prefeitura de Curitiba

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