São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 1996
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Programação natalina é um relógio infernal

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Às vésperas do Natal, a TV funciona como um relógio infernal. Quase que minuto a minuto, o vídeo nos lembra que as festividades estão chegando. Os comerciais, os especiais e a notícia alertam a cada instante sobre as inúmeras possibilidades de comemorar a data com prazer transbordante.
São festas inesquecíveis, viagens maravilhosas, presentes há muito desejados. A contagem regressiva começa no início de dezembro e vai se tornando mais intensiva à medida que nos aproximamos do dia "D".
As agendas culturais prestam serviço ao sugerir presentes da moda. A marquise do Parque do Ibirapuera divulga sua Feira do Natal. As emissoras anunciam seus especiais humorísticos e musicais. Renato Aragão aparecerá vestido de anjo no especial que vai ao ar esta semana.
As lojas disputam o maior natal, o mais barato, o mais tropical, o mais alegre. Os chamados "varejões" inundam o vídeo conclamando à felicidade. São anúncios despretenciosos, na maior parte das vezes gravados em vídeo, que divulgam promoções espetaculares em ouro e prata. Oferecem a possibilidade do pagamento em 6 vezes, 30 dias ou 24 meses.
Aqui não há muito esforço conceitual. Basta exibir produtos, informar sobre preços e formas de pagamento. Baratos, esses filmes exigem pouca produção. O cenário pode ser a própria loja. Para adequar o varejão à ocasião natalina, basta introduzir um trenó ou um figurino de Noel.
Alguns anúncios abusam mesmo do sorriso do bom velhinho. Na falta de melhor idéia, trabalham com multidões de homens, jovens, crianças, e até mulheres, vestidos em vermelho, verde, azul ou amarelo. "Feliz Direct TV para você", anuncia o outdoor, no mesmo espírito de oportunidade.
Nos telejornais, as ações de caridade ganham destaque comovente. As voluntárias do Hospital Albert Einstein distribuem cestas e brinquedos às famílias das cerca de 8000 mil crianças carentes atendidas pelo seu programa assistencial. O SOS Criança sai a campo de trenó, oferecendo brinquedos e comidas a meninos de rua.
O excesso de sorrisos dessas mensagens contrasta com a correria alucinada que se acirra no fim do ano. A preparação da felicidade natalina acaba gerando uma ansiedade estranha, uma espécie de histeria coletiva que vai crescendo nos inúmeros congestionamentos de trânsito, beirando o insuportável. Dado o nível de tensão acumulada, o meio-dia de amanhã significará acima de tudo um grande alívio.

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