São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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Frio 'congela' talento dos brasileiros

ARNALDO RIBEIRO e JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO

ARNALDO RIBEIRO; JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Jogadores que atuam no exterior e suas equipes despencam de rendimento no rigoroso inverno da Europa

O frio do rigoroso inverno europeu tem castigado os jogadores brasileiros que atuam no exterior. Neste final de ano, a maioria deles apresenta uma acentuada queda de rendimento, comprometendo o desempenho de suas equipes.
Se não serve como desculpa, a dificuldade de aclimatação aparece como elemento comum do "inferno astral" em que se encontram nossos atletas expatriados.
Nem os antes endeusados Ronaldinho e Giovanni, do Barcelona (Espanha), escapam da maré de azar sazonal. Assim como o time, que perdeu a liderança para o Real Madrid, a dupla deixou de ser uma unanimidade internacional.
Ronaldinho, que não marca há quatro jogos e foi ultrapassado na artilharia do campeonato, acabou vaiado por torcedores anteontem, contra o Celta, uma experiência tão desagradável quanto inédita.
"Fiquei magoado", disse Ronaldinho, ontem, na sua chegada ao Brasil. Para Giovanni, o frio não é a única explicação pela má fase. "Em Barcelona, o clima não é muito diferente do de São Paulo."
Desculpa
O zagueiro Márcio Santos, do Ajax (Holanda), é outro que passa por mau momento e procura não apontar o frio como justificativa.
Com sua equipe em sétimo lugar, Márcio Santos permanece na reserva. No clássico de anteontem, contra o PSV, entrou no segundo tempo e foi expulso em seguida.
"Jogar com muito frio é tão ruim como jogar com muito calor. A diferença é que, no frio, os músculos demoram mais para obedecer", disse Santos, que já jogou também na França e na Itália.
"O clima e a língua são os principais problemas de adaptação."
Na Itália, o Napoli faz boa campanha, mas nem todos os brasileiros triunfam. Enquanto Beto e André Cruz se destacam, Caio amarga a reserva e padece com o frio.
"No começo do mês, pegamos neve contra o Atalanta. Joguei nos últimos 15 minutos. Quando fazia o aquecimento, não sentia os dedos dos pés. Parecia que ia para o inferno, para o suicídio. Joguei e continuei sem sentir", disse.
"É horrível para quem fica no banco. Você entra completamente frio e continua frio até o fim."
Contusões
Além de prejudicar o rendimento, o frio oferece também um risco maior de contusão aos jogadores.
Não por acaso, dois brasileiros anteciparam seus retornos ao país para tratarem de lesões.
"Por causa do frio, a preparação na Europa é diferente. Você treina menos lá, mas os treinamentos são mais intensos, o que aumenta a possibilidade de uma contusão", disse o volante Zé Elias, do Bayer Leverkusen (Alemanha).
"Machuquei meu joelho e estou fazendo tratamento em São Paulo para fortalecer a musculatura."
O meia Leonardo, do Paris Saint-Germain (França) enfrentou o mesmo problema. Contundido, viu seu time, com o colega Raí, perder a liderança para o Monaco neste final de ano.
Na fria e chuvosa Inglaterra, o meia Juninho, que se machucou recentemente, não conseguiu evitar que o Middlesbrough despencasse para o penúltimo lugar.
O último jogo da equipe, contra o Blackburn, precisou ser adiado porque o "Boro" não tinha jogadores suficientes para escalar: 16 machucados e 7 com gripe.
"No ano passado, na mesma época, aconteceu coisa semelhante. Com a constante mudança de ambiente, do calor da casa aquecida para o frio da rua, a tendência é aumentar o número de gripados e contundidos", disse Juninho.

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