São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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Ou fuga ou amadorismo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Parece mais fuga precipitada do que qualquer outra coisa o retorno ao Brasil do embaixador em Lima, Carlos Coutinho Perez. Beira o absurdo, aliás, a alegação oficial para a sua volta (pedido do presidente Fernando Henrique para ouvir relatório detalhado do ataque à embaixada japonesa na capital peruana).
Afinal, já faz um tempão que inventaram o DDI, o fax, mais recentemente o e-mail, sem contar malas diplomáticas e outras comunicações em código, para a hipótese (remota) de o embaixador ter um grande segredo a contar ao presidente.
Para quem viu ao vivo, pelas TVs pagas por cabo, a libertação de Coutinho Perez e mais quatro sequestrados, na noite de sexta-feira, ficou evidente que havia um compromisso de retorno à embaixada japonesa, no dia seguinte. O embaixador nega.
Admitamos que houve um mal-entendido. Mas o próprio embaixador, megafone em punho, anunciou que a libertação dos cinco era um meio de abrir um casal de comunicação entre a embaixada sitiada e o governo. Que diabo de canal é esse em que um dos "comunicadores" fica em Brasília?
Mais: em tese, o embaixador é o brasileiro que mais entende de Peru, pelas funções que exerce. Logo é a pessoa mais apta a decodificar os acontecimentos e desdobramentos de um episódio que ainda está em andamento.
Se abandona o posto, para voltar ao Brasil, transmite a sensação de que é melhor fechar as embaixadas brasileiras no exterior e passar a acompanhar tudo pela CNN. Seria, no mínimo, bem mais barato, embora o resultado tendesse a ser desastroso para a política externa do país.
Se não fosse fuga de uma pessoa estressada pelo trauma passado, então é amadorismo inaceitável para um estamento da burocracia que se orgulha, com razão, de ser o mais preparado e eficiente de toda a máquina pública brasileira.

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