São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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Como o Brasil vai enfrentar 97

FERNANDO BEZERRA

A CNI tem patrocinado, através dos anos, pesquisas de opinião que são um autêntico termômetro da opinião pública. Graças ao conhecimento assim acumulado, constatamos que a população se comporta de forma ciclotímica, oscilando entre fases de euforia e de franco pessimismo.
As pesquisas realizadas pelo Ibope sob o nosso patrocínio ao longo de 1996 evidenciam que ingressamos num ciclo de franco otimismo, uma vez que 79% dos entrevistados em dezembro acreditam que 1997 será bom ou ótimo.
Economia estabilizada e ausência de "choques" e "impactos", que tantos sobressaltos trouxeram no passado, sugerem consistência no clima de otimismo. O grau de satisfação que o brasileiro manifesta em relação à vida é alto. Assim, tudo indica que esses indicadores correspondem à sinalização de que esteja chegando ao fim o dilatado ciclo de pessimismo, o que é compreensível pelo sucesso do Plano Real.
A julgar pelos indicadores das pesquisas, o governo Fernando Henrique Cardoso tem condições para levar a bom termo as reformas de que carecemos a fim de assegurar a consolidação do Plano Real e a redução do "custo Brasil", permitindo a retomada do desenvolvimento sustentado.
O governo é avaliado de modo positivo. O grau de aprovação, assim como o de confiança, se elevou. A possibilidade de reeleição do presidente da República, que tem ocupado tanto espaço na mídia, continua aprovada por ampla maioria, 60%, o que demonstra que a tese está madura para ser votada já no início do próximo ano pelo Congresso.
Outro dado expressivo corresponde à crescente importância que a população atribui aos municípios no tocante às funções do poder público. Os serviços públicos municipais são considerados melhores do que os federais e estaduais. A maioria da população acha que questões mais diretamente relacionadas à sua vida cotidiana deveriam estar a cargo das prefeituras.
Essa valorização da municipalidade foi confirmada pelo último pleito, em que as disputas de caráter ideológico foram minimizadas, e o eleitorado se manifestou claramente em favor da continuidade das administrações consideradas eficientes, elegendo os indicados pelos prefeitos em exercício em centros importantes como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Também as informações econômicas, de que a indústria se vale para programar suas atividades no futuro imediato, merecem ser comentadas. Reduziram-se levemente as intenções de compra para os próximos três meses, o que coincide com o propósito, manifestado durante a pesquisa, de manter o mesmo nível de endividamento do trimestre anterior. A questão dos juros altos continua interferindo no poder de compra da população, restrição que reduz a demanda, notadamente a de eletrodomésticos.
O destino a ser dado ao 13º salário sugere igualmente um tipo de comportamento que deveria ser habitual, não fora o longo período de inflação e vertiginosa escalada de preços que angustiou a população brasileira nos últimos decênios. O salário adicional, segundo a pesquisa, será usado basicamente para compras à vista, pagamento de dívidas e depósitos em poupança.
De todo modo, não obstante o aparecimento frequente de crises políticas geradas nos gabinetes de Brasília, a leitura correta das pesquisas indica um clima de otimismo quanto à nossa capacidade de superar os desafios do ano que se aproxima. E isso, por si só, já é gratificante.

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