São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 1996
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Guerrilha solta embaixador do Uruguai

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

A libertação do embaixador do Uruguai em Lima, Tabaré Bocalandro Yapeyú, pelos guerrilheiros do Movimento Revolucionário Tupac Amaru, gerou uma crise diplomática entre os governos uruguaio e peruano.
O embaixador foi solto horas depois de a Justiça do Uruguai ter libertado dois integrantes do MRTA, cuja extradição havia sido requerida pelo Peru.
Os guerrilheiros que ocupam há oito dias a casa do embaixador do Japão em Lima libertaram o embaixador uruguaio às 18h32 (21h32 em Brasília) do dia 24, sem qualquer explicação. Bocalandro foi o único refém libertado na véspera do Natal.
O governo peruano reagiu ao que pareceu ser um acordo entre o Uruguai e os guerrilheiros.
No início da noite, o presidente Alberto Fujimori determinou que o chefe da missão diplomática do Peru no Uruguai, Efraín Saavedra, deixasse o país. O embaixador Guillermo del Solar já estava no Peru por razões pessoais.
O ministro do Interior do Uruguai, Didier Operti, afirmou anteontem que não havia relação entre a libertação dos guerrilheiros e a do embaixador.
Os integrantes do MRTA Luis Alberto Samaiego e Sonia Gora Rivera estavam presos no Uruguai desde dezembro de 1995. Eles são acusados de ter participado do sequestro do ex-ministro do Planejamento da Bolívia Samuel Medina.
A extradição de ambos havia sido concedida por um juiz em primeira instância. Anteontem, a decisão foi modificada pelo Tribunal de Apelações do Uruguai.
Negociações
As negociações entre o governo e os guerrilheiros continuam, com a intermediação do chefe da delegação da Cruz Vermelha no Peru, Michael Minnig.
Uma das possibilidades em estudo é o asilo político dos guerrilheiros em Cuba, único país a não condenar a ação do MRTA.
Segundo a Cruz Vermelha, 105 reféns continuam em poder dos guerrilheiros. A entidade não conseguiu ainda identificar 4 das 225 pessoas que foram libertadas no dia 23. Existe a suspeita de que uma delas seja guerrilheiro.
No momento em que os reféns eram libertados, um militar retirou bruscamente um deles da fila. Ontem, citando fontes da polícia, o jornal "Expresso" afirmou que se tratava de integrante do MRTA.
O porta-voz da Cruz Vermelha Roland Bigler afirmou ontem que a entidade não tinha como garantir que guerrilheiros não saíssem junto com os reféns.
Reféns
A casa do embaixador do Japão continua sem água e sem luz. A Cruz Vermelha estabeleceu um sistema de abastecimento de água por intermédio de cisternas. A luz é provida por lanternas.
Ontem, integrantes da Cruz Vermelha promoveram pela segunda vez a limpeza dos sanitários portáteis que estão na casa. A entidade também entregou água e comida.
A família Fujimori doou 20 perus para os reféns e para os policiais que fazem a guarda do local. Eles foram levados pela primeira-dama, Keiko Sofia, filha de Fujimori.
Ao chegar, o carro de Keiko atropelou um fotógrafo quando o motorista fez uma manobra brusca. Ele não sofreu ferimentos graves.
Os reféns estão passando por uma checagem médica diária. Há uma pequena farmácia no interior da casa e eles receberam da Cruz Vermelha o livro "Onde Não Há Médicos", com noções básicas de primeiros socorros.
A comunicação entre os reféns e suas famílias é feita por mensagens enviadas pela Cruz Vermelha. Desde o início do sequestro os reféns mandaram 472 cartas a seus familiares e receberam 550.

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