São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 1996
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Os fantasmas vivem

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Há, na Folha, um velho sábio que vive dizendo uma frase que parece retirada da sabedoria oriental: "Vivi o suficiente para ver tudo acontecer e também o seu contrário".
Não cheguei a tanto, mas vivi o suficiente para ver muita coisa acontecer e, principalmente, para ter sempre o pé atrás, no temor de que o seu contrário aconteça.
Hoje, por exemplo, vive-se uma certa lua-de-mel com o governo, que parece moderno e é aceito como tal por uma parcela importante do público. Há, ainda, quem encha a boca para proclamar os avanços da cidadania, das empresas etc. e tal.
Aí, vem o excelente repórter Xico Sá, na Folha de ontem, relatar o que chama de desmanche da casa de praia de PC Farias em Maceió. E lembrar que era o ícone da República de Alagoas, frequentada por políticos, empresários, o "grand monde" enfim.
A República de Alagoas feneceu apenas ontem, em termos históricos. PC morreu, mas todos os que bajularam os poderosos da época continuam por aí, livres, leves e soltos, a maioria bajulando os poderosos de agora e, ontem como hoje, enchendo a boca para falar de modernidade.
Sou capaz de apostar que, se houvesse uma lista dos frequentadores da casa e do escritório de PC, para comparar com uma lista dos que frequentam os gabinetes de hoje, a repetição de nomes seria uma constante -como há muitos nomes repetidos nos partidos governistas de hoje e nos da República de Alagoas.
Como é Natal, faço a concessão de aceitar que uma parte desses nomes acreditou, de boa-fé, que Collor e PC eram agentes da modernização do país. Mas a imensa maioria sabia que se tratava de uma operação de assalto ao poder e entrou nela com gosto.
É preciso muito mais do que espírito de Natal para acreditar que essa gente se converteu aos bons modos. Só espera outra chance, perto o suficiente do poder para não perdê-la.

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