São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 1996
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Bomba explode na casa do embaixador

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

Uma bomba explodiu na madrugada de ontem dentro da casa do embaixador japonês em Lima, onde 103 reféns estão em poder de guerrilheiros do MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru).
Segundo a Cruz Vermelha, a explosão foi provocada por um animal. A entidade afirmou que não havia feridos. Tudo indicava que a bomba estava na garagem ou no jardim da casa.
Às 14h25 de ontem (17h25 em Brasília) o MRTA libertou o embaixador da Guatemala no Peru, José Maria Argueta. Havia a expectativa de que mais duas pessoas fossem soltas ontem.
Logo depois de sair da casa, Argueta afirmou que sua libertação era um gesto de reconhecimento pelo acordo de paz que o governo guatemalteco vai assinar com os guerrilheiros de seu país depois de 26 anos de guerra civil.
Anteontem, os guerrilheiros soltaram o embaixador do Uruguai, Tabaré Bocalandro Yapeyú, depois que a Justiça daquele país negou a extradição para o Peru de dois integrantes do MRTA, que foram colocados em liberdade.
A explosão na casa do embaixador do Japão ocorreu à 01h47 de ontem (4h47 em Brasília). O funcionário da Cruz Vermelha que dormia em frente à casa chamou Jean Pierre Schaerer, o segundo homem da entidade em Lima.
Schaerer foi até o local, ficou em frente à casa, mas sua presença não foi solicitada no interior nem pelos guerrilheiros nem pelos reféns.
Bispo
A visita do bispo Juan Luis Cipriani aos reféns, anteontem, foi interpretada na capital peruana como mais uma tentativa de negociação do governo.
Cipriani, bispo de Ayacucho, é extremamente ligado ao presidente Alberto Fujimori. O bispo é o principal líder da Opus Dei no país, e tem posições conservadoras nos campos religioso e político.
Ontem, Cipriani fez um pronunciamento contestando que estivesse atuando como mediador.
O bispo disse que durante o tempo em que esteve na casa conversou "livremente" com os reféns e com os guerrilheiros, inclusive o líder Nestor Cerpa Cartolino. Segundo ele, os reféns estão bem.
Em seu pronunciamento, o bispo não deu detalhes sobre as conversas, mas disse que havia "uma semente de paz". Ele considerou "muito difícil" a situação provocada pela ação dos guerrilheiros.
Cipriani também pediu "gestos mais amplos" em direção à paz. De acordo com o bispo, a função da igreja é buscar a conciliação.
Anteontem, o bispo havia ficado na casa do embaixador do Japão por cerca de sete horas. Cipriani disse que ouviu confissões durante mais de duas horas e celebrou uma missa em comemoração do Natal.
Médicos
A Cruz Vermelha continuou o trabalho de assistência aos reféns. Cinco japoneses se integraram à equipe dirigida pelo chefe da entidade no Peru, Michael Minnig: um médico, duas enfermeiras, um tradutor e um funcionário de apoio.
Os médicos da entidade estão fazendo checagens diárias nas condições de saúde dos reféns. O porta-voz da Cruz Vermelha Steven Anderson disse ontem que não havia mais necessidade de os familiares levarem remédios para os reféns, porque eles já estavam sendo prescritos pelos médicos.
Os funcionários da entidade também realizaram ontem a limpeza dos sanitários portáteis que estão dentro da residência oficial do embaixador do Japão.

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