São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
Próximo Texto | Índice

Paulistano sonha com casa no interior

HELOÍSA CARVALHO
FREE-LANCE PARA FOLHA

Ninguém aguenta mais viver em São Paulo. Essa é a impressão de quem ouve diariamente -na rua, no bar ou em uma festa de família- frases do tipo "Assim que puder, saio daqui, vou para o interior" ou "Meu sonho é vender tudo e ir para uma cidadezinha".
E é cada vez maior o número de paulistanos que está fazendo isso. O medo da violência e a busca de melhor qualidade de vida transformam cidades num raio de 100 km da capital no novo "paraíso perdido" de paulistanos descontentes.
O movimento, crescente nos últimos cinco anos, já atrai a atenção de construtoras e imobiliárias.
"Hoje, quem mora em São Paulo corre atrás de tranquilidade ou de um bom lugar para viver depois dos anos de trabalho", diz Paulo Felice Lauro, diretor comercial da Andrade Gutierrez Imobiliária -que administra três empreendimentos em Campinas (99 km a sudeste de SP), um dos pólos de atração dos paulistanos em mudança.
"Na época do primeiro lançamento, sentimos uma forte demanda vinda de São Paulo. A tendência se firmou e deve crescer."
Jundiaí
Jundiaí (60 km a noroeste de SP) é um exemplo do fenômeno. Em 93, quando a construtora Giassetti programava seu primeiro lançamento na cidade, os incorporadores ficaram surpresos com o interesse dos paulistanos. "São os que mais compram imóveis em Jundiaí", diz o gerente de marketing da empresa, Luiz Carlos Tonolli.
Hoje, a Giassetti tem oito empreendimentos na cidade voltados apenas para o público paulistano. Das 1.120 unidades que vendeu em 1995, 60% foram negociadas com os "fugitivos" da capital.
"Eles contam com ônibus executivos, boa infra-estrutura, áreas verdes e estão a apenas 30 minutos de São Paulo. A atração de morar aqui e continuar a trabalhar em São Paulo é grande", diz Tonolli.
O supervisor de vendas Cássio Eduardo Pinto da Silva, 31, concorda. Há um ano em Jundiaí, ele mantém o trabalho na capital. "Além do lazer, encontrei pessoas mais felizes e confiáveis."
Para Ricardo Anversa, diretor da construtora Anversa, a migração tem um motivo simples. "Todos têm lembranças ou sonham com as casas do interior. O paulistano quer novas áreas para viver bem."
Nascido em Marília (SP), Anversa usa sua experiência "interiorana" nos negócios. Ele acaba de lançar um empreendimento nas proximidades de São Paulo: o Swiss Park, em São Bernardo do Campo, no ABCD (Grande São Paulo).
Até agora, das 182 unidades vendidas do empreendimento, 60 foram para paulistanos que querem continuar trabalhando na capital.
Mas a rota de migração dos paulistanos é ainda maior: Sorocaba, Piracicaba, Limeira e Paulínia estão na lista das cidades-alvo dos paulistanos em êxodo.
"Quatro anos atrás, comprei um terreno em Sorocaba, como investimento. Conheci a cidade, e desde 1994 comecei a construir. Sorocaba é ótima para viver e dá para continuar a trabalhar em São Paulo", conta o analista de software Marcos Higashi, 34.
Com mudança planejada para o fim de 97, Higashi prevê gastar da nova casa ao trabalho -em Santo Amaro (zona sul de SP)- o mesmo tempo que leva hoje da Casa Verde (zona norte) ao escritório.
Filho de imigrantes japoneses, Higashi faz o caminho inverso dos pais. "Eles vieram do Japão para o interior, e de lá para São Paulo. Tudo em busca de oportunidades. Vou de São Paulo para o interior em busca de qualidade de vida."

Próximo Texto: Infra-estrutura da região é fundamental
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.