São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
Próximo Texto | Índice

PESQUISA E PLEBISCITO

A pesquisa do Datafolha publicada hoje só reforça a posição defendida domingo passado por esta Folha a favor de um plebiscito para que o eleitorado se manifeste a respeito do direito à reeleição para o Poder Executivo. A pesquisa mostra uma profunda divisão de opiniões entre os eleitores consultados, a ponto de permitir diferentes leituras.
Os simpatizantes do princípio da reeleição dirão que a maioria é a favor da tese, o que é verdade. São 38% os que gostariam que Fernando Henrique Cardoso pudesse ter o direito de disputar um segundo mandato e mais 16% que aprovam a reeleição, desde que ela vigore apenas para os futuros presidentes. A soma resulta em 54% a favor da reeleição.
Mas são também 54% os que se opõem a que FHC tenha o direito de concorrer novamente em 1998. É a soma dos 38% que não aceitam mudança nas regras, para o atual ou para os futuros presidentes, com os 16% que concordam com a reeleição apenas para os sucessores de FHC.
É razoável supor que um plebiscito, com toda a campanha de esclarecimentos inerente a ele, permitiria desfazer essa profunda divisão e daria ao Congresso uma base mais sólida em que amparar a sua própria decisão. Hoje as manifestações sobre a reeleição se fazem praticamente no escuro, posto que o debate do tema está restrito ao Legislativo.
Não que se questione a legitimidade do Congresso para decidir a respeito. O editorial do domingo anterior era bem claro a esse respeito.
Ocorre que o debate no Congresso fica naturalmente contaminado pelos interesses políticos ou pessoais dos parlamentares. A maioria não discute se o princípio da reeleição é ou não conveniente para o país, mas se a reeleição de FHC convém ou não ao futuro político de cada congressista. É saudável, a propósito, que uma entidade importante da sociedade civil como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) anuncie uma campanha a favor do plebiscito.
A pesquisa do Datafolha permite também avaliar que nenhum dos potenciais candidatos à Presidência tem o que temer do resultado da consulta, seja ele a favor ou contra a reeleição do atual presidente.
É verdade que, se puder ser novamente candidato, Fernando Henrique Cardoso sai na frente para o pleito de 1998, com 35% das intenções de voto. Mas é uma vantagem óbvia, decorrente da abundante exposição à mídia de qualquer presidente e de uma situação econômica relativamente favorável, especialmente no que diz respeito à inflação.
Está longe também de ser um cenário definitivo, até porque FHC registra agora um número de intenções de voto menor do que o de eleitores que lhe deram a vitória há dois anos.
No caso inverso, ou seja, se barrada a reeleição, a disputa sucessória ficaria inteiramente em aberto, com um virtual empate entre três candidatos (Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Maluf e José Sarney), nenhum deles do núcleo básico do atual governo.
É uma situação que permite supor que, descartada a reeleição, o governo teria tempo para construir uma candidatura de peso suficiente para enfrentar os que hoje levam alguma vantagem. Não parece, pois, haver razão alguma realmente ponderável para que se negue ao eleitorado o direito de votar duas vezes, agora no plebiscito sobre a reeleição e em 1998 no seu candidato preferido.

Próximo Texto: BANERJ, BANESPA ETC.
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.