São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 1996
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INFLAÇÃO E LUA-DE-MEL

O presidente Fernando Henrique Cardoso chega à metade de seu mandato em plena lua-de-mel com a opinião pública. Obtém, como o demonstra o Datafolha, a melhor avaliação desde que começou a governar: 47% de ótimo e bom.
Não é preciso esforço algum para apontar a estabilidade da economia como o fator praticamente excludente que determina tal resultado.
O Plano Real, lançado no governo anterior, mas preparado pelo ministro da Fazenda FHC e sua equipe, continua recebendo avaliação altamente positiva: 76% consideram-no bom para o país, e porcentagem levemente menor (72%) aponta-o como bom para o próprio pesquisado.
Mas esta Folha publicou, também ontem, um levantamento das promessas de campanha de FHC e dos resultados alcançados nos seus dois primeiros anos de gestão.
Há um déficit nítido nas áreas de saúde, agricultura e emprego, três dos cinco dedos da mão espalmada que foi utilizada como símbolo da campanha. Mesmo nas duas outras prioridades (educação e segurança), em que o realizado mais se aproximou do prometido, as carências continuam sendo enormes.
Não obstante, a opinião pública exibe alto grau de tolerância, o que certamente se deve ao fato de FHC ter mantido a inflação sob controle. Não é um feito desprezível, claro, mas o próprio presidente admitiu, em artigo publicado domingo pela Folha, que governar não pode se limitar a estabilizar a economia.
Os desafios pela frente são enormes, o que é quase dispensável dizer. Mas a inflação baixa funciona como inestimável alavanca eleitoral, o que já se comprovara antes, na Argentina e no Peru, com a reeleição de Carlos Menem e Alberto Fujimori, respectivamente. Nos dois casos, domar a inflação foi o principal fator que permitiu um segundo mandato, ainda que, no Peru, o combate até então aparentemente bem-sucedido à luta armada também tenha ajudado.
Há motivos de sobra para acreditar que, se aprovada a reeleição, o presidente será um candidato fortíssimo. Mas a comparação com Menem e Fujimori deve funcionar como sinal amarelo: depois de reeleitos, ambos viram a popularidade despencar, apesar de a inflação permanecer baixa. O que só reforça a análise do próprio FHC de que governar não é só estabilizar a economia.

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