São Paulo, sexta-feira, 2 de fevereiro de 1996 |
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"Filmar nos EUA é como uma operação militar"
EDIANE BALLERONI
Folha - Como é escrever uma comédia em inglês, filmar com equipe e atores americanos? Fernando Trueba - A primeira versão do roteiro foi feita há quatro, cinco anos atrás. Eu escrevi em espanhol e fiz uma tradução para o inglês. O texto em inglês, obviamente, soava exatamente como uma tradução -perdia muito do seu humor e algumas piadas não faziam sentido. Três roteiristas americanos trabalharam comigo sobre o texto original, "americanizando-o". Antonio Banderas foi fantástico: em cada corte de câmera ele estava lá, acompanhando, mesmo quando não era sua cena. Apesar do bom entendimento com todos e de ser uma comédia, foi o meu filme mais difícil de fazer. Filmar na Europa é muito mais divertido do que aqui. Folha - Por quê? Trueba - Aqui você se sente como o general de um exército. Na Europa você faz filmes com amigos. Gosto de trabalhar em um ambiente o mais descontraído possível, com entusiasmo. Escolho quem trabalha comigo um a um. Nunca fiz um filme por dinheiro, odeio gente que trabalha por dinheiro. Quando digo isso, os americanos não entendem muito bem. Filmar, aqui nos Estados Unidos, é como uma operação militar. O set de filmagem fica cheio de gente falando em walkie-talkies. Eles querem que você use efeitos especiais, tecnologia. Eu odeio tecnologia. Eu estou dirigindo um filme, não uma Operação Tempestade no Deserto. Folha - O sr. costuma ensaiar as cenas antes de filmar? Trueba - Geralmente só uma vez. Não gosto de ser mecânico, chato. Não gosto de ensaios. Eles funcionam bem para o teatro, não para o cinema. Principalmente quando se tem bons atores o ensaio é dispensável. No filme "Belle Epoque", muitas das cenas que você vê são ensaios filmados. Folha - Quanto custou "Two Much"? Trueba - US$ 11 milhões. Foi praticamente todo financiado com dinheiro espanhol. É o filme mais caro feito até hoje por um diretor espanhol. Folha - Por que a escolha de Miami como cenário? Trueba - Eu conheço Miami há 14 anos. É impressionante como esta cidade está se mexendo, está mudando. É a cidade perfeita para a história do filme -que é uma comédia americana, com um sabor latino. Visualmente, Miami é muito interessante. Tem um dos "skylines" mais bonitos que conheço. Culturalmente, está repleta de contrastes. É uma cidade cheia de mau gosto, de arrivistas, mas também de vitalidade. Me encanta andar pelas ruas e ouvir as pessoas falando inglês, espanhol, português... Folha - O que o sr. fez com o Oscar que ganhou? Trueba - Com a estatueta? Eu queria dar para a minha mãe -o que sempre faço com os meus prêmios. Mas o meu filho mais velho não deixou. O Oscar está na minha sala, em cima da lareira. Folha - E o que fez com o dinheiro que o Oscar lhe trouxe? Trueba - Todo o dinheiro que ganho com os meus filmes invisto no meu filme seguinte. Folha - Qual o seu próximo projeto? Trueba - Nenhum. Não tenho nada em vista. Tenho recebido algumas propostas para refilmar "Belle Epoque" em inglês. São ofertas com muito dinheiro. Disse não a todas elas. Não tem sentido fazer o mesmo filme duas vezes. Folha - Algum plano de filmar na América Latina? Trueba - Nenhum, mas gostaria de um dia fazer algo sobre a música brasileira. Adoro o Caetano, tenho todos os discos dele. Também sou fã do Chico, do Milton... Folha - O sr. já esteve no Brasil? De onde vem esse interesse? Trueba - Minha mulher nasceu em São Paulo e viveu lá até os treze anos. (EB) Texto Anterior: Miami é vitrine de novos diretores Próximo Texto: Livro é roteiro disfarçado de romance Índice |
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