São Paulo, sexta-feira, 2 de fevereiro de 1996
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Darwinismo social

O Brasil vem registrando uma considerável desaceleração no crescimento demográfico desde a década de 70. Há estimativas de que em apenas 50 anos o país teria um número de habitantes relativamente estável -em torno de 250 milhões.
A maioria dos países europeus já experimenta a estabilização demográfica, com taxa de natalidade de 1,7 filho por mãe. No Brasil essa taxa já caiu para 2,5. Mas no Primeiro Mundo um sistema de saúde com qualidade é garantido por um gasto anual per capita de US$ 1,5 mil -bem superior ao do Brasil (US$ 48, pelos dados de 1993).
Ora, segundo dados do Ministério da Saúde, apesar da diminuição em mais de 50% da taxa de natalidade nos últimos 25 anos, ainda morriam em média no Brasil, em 1993, 134,7 mães para 100 mil crianças nascidas vivas, índice 14 vezes maior que o dos EUA e 34 vezes maior que o do Canadá. E a ONU estima que essa taxa de mortalidade já seria hoje de aproximadamente 150 mães para 100 mil nascidos. Evidencia-se assim que nos países mais desenvolvidos a estabilidade demográfica é antes um indicador de políticas de saúde bem-sucedidas do que um resultado da fatalidade desassistida.
A queda no crescimento populacional representa um fator auxiliar de grande importância para as políticas sociais em geral. Mas seria uma trágica ironia se países como o Brasil só conseguissem atingir essa meta por meio da implacável e impiedosa ação de um darwinismo social que deixa os mais fracos entregues à própria sorte.

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