São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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China cria escola para orientar divórcios

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China, sociedade de costumes conservadores e habituada a cultivar a idéia de "famílias indestrutíveis", criou em junho passado a sua primeira escola de divórcio.
As aulas buscam ensinar ao casal as leis que regem a separação e dar orientação psicológica, a fim de conseguir um divórcio pacífico ou até mesmo salvar o casamento. A escola pioneira fica em Rengiu (pronuncia-se Rentchiu), na Província de Hebei (nordeste).
Resultado das reformas pré-capitalismo que derrubam valores tradicionais da sociedade chinesa, o número de conflitos conjugais e de divórcios começou a aumentar nos anos 80 e alarmou a Federação de Mulheres de Rengiu.
Em 1992, a federação decidiu organizar a escola de divórcio que teria como objetivo principal proteger as mulheres dos abusos praticados no momento da separação.
A Justiça de Rengiu encampou a proposta e no ano passado a cidade de 700 mil habitantes entrou para a história da China ao deslanchar essa iniciativa pioneira.
Depois, Pequim resolveu abrir sua escola de divórcio, para ser copiada pela Província de Heilongjpiang (nordeste).
Sobre os resultados do programa, responde o advogado Zhang Huimin, diretor da escola de Rengiu: "Ainda é cedo para avaliarmos o impacto, mas estamos contentes com alguns números, como o fato de termos conseguido em nossa cidade convencer 33 casais a desistirem do divórcio e, dos 218 casos submetidos à Justiça, 112 terminaram em separação sem qualquer conflito".
Em 1994, Rengiu teve 430 pedidos de divórcios levados à Justiça e no ano passado, a cifra subiu para 490. "Mas a tendência, espero, de pelo menos estabilizar o número de separações e conseguir que elas sejam cada vez mais de forma pacífica", afirma.
O curso dura dois dias, explica Zhang Huimin. Na primeira metade, os professores ensinam a legislação chinesa sobre divórcio e casamento, com a intenção de municiar principalmente as mulheres para uma batalha judicial.
"Em geral as mulheres saíam prejudicadas na separação, na hora de dividir os bens, por exemplo, porque elas não sabiam se defender", diz Liu Sujuan, vice-diretora da Federação das Mulheres.
No segundo dia do curso, os alunos fazem as perguntas que quiserem: como dividir os bens comuns, o que fazer com a criança e aconselhamento psicológico para superar um eventual trauma.
Os professores também contam casos de casais que desistiram do divórcio ou que conseguiram administrar bem a separação.
Os dez professores da escola, entre advogados e psicólogos, já receberam 321 alunos. O número ímpar se explica: às vezes um dos cônjuges se recusa a frequentar o curso. Em geral, o marido.
Além dos 321 estudantes, a escola de divórcio teve em seus bancos outros 400 alunos, que são parentes do casal, geralmente pais e sogros. Na China, os pais têm mais influência sobre a vida dos seus filhos que no Ocidente.
Os alunos se inscrevem para o curso, que repete uma vez por mês, sem pagar nenhuma taxa e também recebem material didático gratuitamente. A Prefeitura de Rengiu e a Federação das Mulheres se financiam a escola.
Durante dois dias a cada mês, um dos tribunais de Rengiu se transforma na escola de divórcio e suas paredes recebem cartazes com dizeres dirigidos aos alunos.
As mensagens mais comuns são "a separação é algo importante, portanto pense bem", "homens e mulheres têm direitos iguais" ou "criança sem família é como grama, criança com família é como um diamante".

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