São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Biografia revela rainha traída e conformada

OTÁVIO DIAS
DE LONDRES

"Elizabeth - Uma Biografia de Sua Majestade, a Rainha" provocou escândalo no Reino Unido porque foi a primeira vez que uma biógrafa respeitada defendeu a tese de que o príncipe Philip, marido de Elizabeth 2ª, teria sido infiel durante os primeiros anos do casamento real.
Lançada em 24 de janeiro, a biografia está em primeiro lugar na lista dos livros de não-ficção mais vendidos do jornal "Evening Standard". No "The Sunday Times", ocupa o quarto lugar.
Em seu livro, Sarah Bradford relata o relacionamento extraconjugal do príncipe com uma famosa atriz de musicais, Pat Kirkwood, no final dos anos 40.
Segundo Bradford, os dois teriam se conhecido em outubro de 1948, quando a rainha estava grávida do príncipe Charles, por intermédio de um fotógrafo conhecido como Baron.
Amigo de Philip e namorado de Kirkwood, Baron era uma figura carimbada em Londres nos anos 40 e 50. "Baron era um passaporte para todos os tipos de pessoas, um rapaz cheio de vida num tempo muito divertido", diz Bradford.
O fotógrafo era o mentor do "clube de quinta-feira", almoço semanal exclusivamente masculino que o príncipe Philip costumava frequentar.
Baron organizou também a despedida de solteiro de Philip e, após o casamento, promoveu jantares anuais em homenagem a ele.
Segundo a biografia, na noite em que se conheceram, Kirkwood e Philip teriam sido vistos dançando em um clube noturno da cidade. Informado, o rei George 6º teria ficado furioso.
Quando os primeiros extratos do livro foram publicados pela imprensa britânica, em janeiro último, a ex-atriz Kirkwood voltou a negar que tenha tido qualquer relacionamento com Philip.
Segundo Kirkwood, eles se encontraram algumas vezes como amigos. O Palácio de Buckingham disse só que as revelações não passavam de "rumores reciclados".
O príncipe sempre se defendeu dos boatos com a afirmação de que teria sido impossível manter um relacionamento extraconjugal com tantos seguranças à sua volta.
"Você é um rapaz de sorte", disse Philip em certa ocasião ao príncipe Bernhard, casado com a rainha Juliana, da Holanda. "Eu tenho seis seguranças atrás de mim o tempo todo..."
Segundo Bradford, a rainha nunca quis saber detalhes das possíveis aventuras do marido. "Ela é muito observadora... mas não quer saber", escreve a biógrafa. Quando uma dama-de-companhia tentou alertá-la, foi despedida.
Bradford sustenta que os casos de Philip nunca tiveram sérias consequências. Segundo ela, o príncipe tem um temperamento frio e nunca se deixou envolver.
"Ele era dominante, masculino, mas não romântico. Ele é 150% masculino, e este é seu problema", afirmou uma fonte da autora.
"O príncipe é um homem difícil, e a rainha o considera difícil", disseram amigos do casal. Segundo Bradford, Philip ocupa o lugar central na vida da rainha. "Ela o adora e submete-se a ele", diz Bradford.
"Às vezes ele grita com a rainha, como grita com outras pessoas, e ela não parece se importar", escreve. "É como se ela considerasse que é dessa maneira que os maridos se comportam", afirmou outra fonte.
O livro registra uma ocasião em que o casal teria discutido em público, durante um almoço no castelo de Windsor.
A rainha havia dado ordens para que determinado serviço fosse feito no parque do castelo. Ao ver o resultado, o príncipe explodiu: "Quem é o estúpido que providenciou isso?".
"Eu", respondeu a rainha, segundo conta Bradford. "Bem", continuou ele, "foi algo estúpido de se fazer".
Nesse momento, um cortesão interveio: "Desculpe-me, senhor, mas sua majestade está certa". "Muito bem", concluiu Elizabeth, "fico satisfeita que alguém se levante por mim aqui".
Em outros momentos, entretanto, a rainha ordena que o marido "cale a boca", de acordo com Bradford. Isso acontece quando ele expressa forte opinião sobre assunto de que não entende ou quando é pouco hábil em suas afirmações.
Ela também nunca permitiu que o marido se intrometesse em assuntos relativos ao Estado.
Segundo Bradford, os dois ficaram ainda mais próximos nos últimos anos com os escândalos causados pelos casamentos de Charles e Diana e de Andrew e Sarah Ferguson.
"Ele tem sido maravilhoso com ela e incrivelmente protetor", disse uma fonte. Muitas vezes, Philip a espera acordado até depois da meia-noite quando ela atende a compromissos noturnos sozinha.
A biografia também toca na questão do difícil relacionamento entre a rainha e a princesa Diana. Segundo Bradford, Elizabeth 2ª pouco fez para que Diana se sentisse à vontade nos primeiros anos do casamento com Charles.
"Diana não era seu tipo de garota. Ela revelou não ser uma apaixonada pela vida campestre como Charles imaginava. Estava interessada em roupas e música pop. Cavalos e cachorros, caçadas e pescarias, os passatempos reais, a aborreciam."
Pelo fato de a vida no Palácio de Buckingham nunca ter intimidado a rainha, Elizabeth teria presumido que Diana se adaptaria facilmente à atmosfera da corte.
A pouca simpatia da rainha para com Diana acabou de vez, segundo Bradford, com a publicação do livro "Diana, Sua Verdadeira História", escrito por Andrew Morton com a colaboração de vários amigos de Diana e, segundo especula-se, da própria princesa.
"Todo o mito real que Elizabeth tanto trabalhou para construir começou a desmoronar por causa dos impulsos egoístas de duas jovens mulheres que entraram voluntariamente no círculo (real), desfrutaram de todos os privilégios e depois voltaram-se contra o sistema", escreve Bradford, referindo-se também a Sarah Ferguson, ex-mulher do príncipe Andrew.
Segundo Bradford, a rainha também se sentiu incomodada pelo sucesso de Diana junto aos meios de comunicação. No Natal de 1993, a rainha teria ficado furiosa quando os fotógrafos amontoaram-se para fotografar a princesa e ignoraram o resto da família.
"Embora normalmente pouco interessada em publicidade, ela tomou a atitude deles como uma desfeita", afirma Bradford.
Durante seu reinado, iniciado há quase 43 anos, Elizabeth 2ª conviveu com nove primeiros-ministros britânicos. Seu favorito é Winston Churchill (1940-45, 1951-55). Suas relações com Margaret Thatcher (1979-1990) foram tensas.

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