São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cientista quer adiar corte em gás carbônico

FRED PEARCE
DA "NEW SCIENTIST"

Para horror de muitos pesquisadores do clima, um dos maiores advogados de medidas para deter o aquecimento global afirma que cortes substanciais na emissão dos gases causadores do efeito estufa devem ser adiados.
O climatologista Tom Wigley, da Corporação Universitária para Pesquisa Atmosférica, em Boulder (EUA), é um dos autores de relatório lançado em dezembro pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU.
No relato, pede por medidas para deter o aquecimento global. Mas, em artigo mês passado na revista "Nature", Wigley afirma que o principal investimento para evitar o aquecimento deve aguardar tecnologias mais baratas.
No mês que vem começam as negociações internacionais para determinar quanto os países industrializados devem reduzir nas emissões de gases causadores do efeito estufa após o ano 2000.
O efeito estufa é causado pelo acúmulo de gases na atmosfera (sobretudo gás carbônico), que impede calor de sair da Terra e aumenta a temperatura do planeta.
Com o artigo de Wigley, escrito com dois economistas dos EUA, um forte "lobby" contrário a cortes na emissão de gases deve ser favorecido nos EUA.
Climatologistas, como Wigley, concordam que deve haver na atmosfera uma concentração máxima de gás carbônico, o principal causador do efeito estufa. É a concentração de gás carbônico, dizem, que deve determinar a maior parte do aquecimento global.
Segundo Wigley, deve haver no máximo 550 partes por milhão de gás carbônico na atmosfera, cerca do dobro do que havia antes da era industrial e bem mais do que há hoje (360 partes por milhão).
O painel internacional, diz Wigley, sugere que "uma imediata mudança é necessária". Mas, segundo ele, um adiamento de 30 anos, durante os quais as emissões continuariam a aumentar rapidamente, não é apenas possível, mas tornaria a tarefa mais barata.
Wigley afirma que o painel não fez nenhuma tentativa para estabelecer se seus cenários para redução nas emissões são realistas. E sugere um caminho alternativo.
"Reduções modestas nos anos iniciais (...), seguidas de reduções mais fortes depois, são mais baratas", afirma o artigo.
Programado para ser publicado antes, o artigo recebeu uma reação hostil de alguns cientistas convidados para apreciá-lo. Isso resultou em acusações de censura e numa reelaboração do trabalho.
Mas a versão publicada parece superficial do ponto de vista econômico, diz Michael Grubb, do Instituto de Assuntos Internacionais, em Londres, que revisou a parte econômica. "Discordo fundamentalmente das conclusões."
Uma questão crítica é como surgiria a inovação tecnológica. Para Wigley, o desenvolvimento de combustíveis alternativos que não liberem gás carbônico é inevitável.
Grubb discorda. "A ação do governo é fundamental para vencer a inércia que impede o investimento em pesquisa e desenvolvimento."
Wigley insiste que não se desviou de sua visão sobre o aquecimento global, apenas acrescentou uma dose de realismo.

Texto Anterior: Livro mostra as violações pós-85
Próximo Texto: Vulcão Pinatubo destruiu corais, afirma pesquisa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.