São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Juros promovem oligopolização, diz Eris

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A política do BC (Banco Central) está "oligopolizando (um número pequeno de empresas controla um determinando segmento de mercado) e internacionalizando desnecessariamente a economia".
A avaliação é do ex-presidente do BC Ibrahim Eris, atualmente sócio da Linear Administradora de Patrimônio.
A abertura mudou as condições de concorrência, trouxe mais importados para as prateleiras e, junto com a estabilidade, tornou obrigatória para as empresas a redução de custos.
Essa preocupação com a sobrevivência aparece até mesmo na pauta das importações, lembra Tereza Fernandez, consultora da MB Associados.
No ano passado, afirma, enquanto o país importou US$ 3 bilhões em carros, gastou US$ 17 bilhões em máquinas e equipamentos e outros US$ 17 bilhões em matérias-primas.
"O Brasil foi colocado dentro do mundo. Existe, agora, concorrência. Estamos vivendo uma revolução na indústria", diz Sérgio Haberfeld, da Toga, líder no segmento de embalagens flexíveis.
Dinheiro externo
Mas Eris usa o termo "desnecessariamente" para qualificar os efeitos produzidos pela política de juros elevadíssimos e pelo arrocho do crédito nesse novo cenário.
O arrocho criou "condições desiguais de competição" entre as grandes empresas e as pequenas e médias, completa Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo.
As grandes nacionais ou estrangeiras podem buscar empréstimos no exterior. As vantagens: os juros são menores (são civilizados) e, mais importante, o prazo de pagamento é mais longo.
As restrições ao ingresso de dólares adotadas pelo BC na quinta preservaram essas operações.
Já as pequenas e médias empresas dependem do crédito bancário interno -que é limitado hoje ao prazo de seis meses e cobra as taxas de juros mais altas do planeta.
A desigualdade nas condições é, na realidade, segundo a Folha apurou, dupla: as pequenas não têm acesso aos empréstimos externos e, para completar, os fornecedores dão preferência aos grandes na hora de conceder crédito.
Essa desigualdade acaba gerando um processo de concentração nas vendas, que é mais visível, segundo Solimeo, nos segmentos de eletroeletrônicos e de alimentos.
Baixa renda
Os números do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) servem para ilustrar esse movimento.
No Natal de 1994, as 50 maiores responderam por 86,6% das consultas; em 1995, por 89,8%.
É fácil entender a razão. A estabilização ampliou o consumo na faixa de renda mais baixa.
"A demanda por embalagens para produtos alimentícios, cervejas, detergentes, sabonetes subiu uma barbaridade", diz Haberfeld.
Esse segmento de renda precisa de prazo no crediário para adquirir produtos de valor unitário mais elevado (eletroeletrônicos, por exemplo).
Por conta da política do BC, o pequeno comércio não pode conceder esses prazos; mas os grandes, sim.
Os pequenos perdem clientes para os maiores, que, por concentrarem mais vendas, aumentam ainda mais o poder de barganha junto aos fornecedores.
Não se trata de uma mera guerra de preços. "O que existe é a busca de competitividade. É um processo duradouro", diz Carlos Monteiro, diretor financeiro da Parmalat.
No limite, portanto, permanecendo tudo como está, a tendência é a corda apertar ainda mais para pequenos e médios industriais e comerciantes.
Por isso, Eris defende, como primeira medida, a redução imediata das taxas de juros.
Ele considera "louvável" a iniciativa do governo, anunciada junto com as medidas de restrição na quinta, da criação do fundo para empresas emergentes.
Se funcionar, pondera, esse seria um canal de acesso ao crédito externo para médias e pequenas.
Já Tereza Fernandez afirma que o governo terá de adotar "políticas dirigidas" para essas empresas.

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