São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Curiosidade e rito levam teen de volta às igrejas

ISABELLE SOMMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os avós até que falam um pouco sobre religião. Os pais nunca ligaram para o assunto. Mas os filhos, esses estão se interessando, e muito, pelos rituais de iniciação.
Não é exatamente a religião que atrai os teens. A comemoração, os rituais e os aspectos místicos das religiões são os responsáveis pelo surgimento dessa nova geração nos templos. Eles são seduzidos pelos presentes e pela atenção da família.
Os irmãos Mariana, 14, e Francisco Trevas, 13, decidiram fazer primeira comunhão depois de ver a festa dos primos. "Quando meus primos fizeram, eu me interessei", diz Francisco.
Mariana também quis aprender mais sobre o catolicismo. "Fiz a primeira comunhão porque quis conhecer a história da Bíblia. Aí, resolvi assistir aulas de catecismo."
A mãe da dupla, a socióloga Thereza Trevas, 53, acredita que os filhos se sentiram atraídos pela festa: "Eu acho que foi mais pelo rito, encontrar uma raiz".
Depois da comemoração, eles não foram à igreja. "Eu não pratiquei mais", confessa Mariana.
Júlia Galli O'Donnel, 15, também decidiu fazer primeira comunhão apesar de seus pais e irmãos nunca terem se importado com religião.
"Rezo todos os dias. É costume. Mas não sou religiosa de ir à igreja", diz Júlia.
Sua mãe, a psicanalista Cecília Galli, 53, também não acredita que a filha fez uma opção religiosa. "Não foi uma procura religiosa. Foi um reconhecimento social, de passagem (da infância para a adolescência)".
Isso também acontece com outras religiões. Filho de pais judeus agnósticos, Tom Farkas, 13, resolveu fazer o bar-mitzvá. Ele também nunca estudou em colégios religiosos.
Segundo Tom, o interesse pela religião partiu da vontade de conhecer a história dos tempos bíblicos. "Eu não tinha muita noção", diz. Antes da cerimônia, ele fez um curso de dois anos.
A mãe de Tom, Lilian Farkas, acha que, além da festa, ele ficou seduzido pela aprendizagem do hebraico e das histórias bíblicas. "Ele é curioso, gosta de saber o significado das coisas".
Mas o presente também pesou. "Eu ganhei uma viagem para Nova York", diz Tom.
"As festas reúnem a família e dão um sentimento de proteção ao adolescente", afirma Cinira Fausto, 65, diretora da escola onde Tom estuda, o Colégio Vera Cruz. Lá estudam muitos teens de formação judaica e católica.
Segundo Cinira, as cerimônias religiosas também se tornam um ritual de passagem. "Eles se sentem publicamente reconhecidos como adolescentes, fazendo agora parte de um grupo".

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