São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Passagem para a Índia

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

Num intervalo inferior a quarenta dias tive a oportunidade de visitar a China e a Índia, em viagens de uma semana. Como é sabido, são os dois países mais populosos do planeta e com quem o Brasil, talvez tardiamente, procura estreitar relações comerciais.
Certamente o desempenho da economia global nos próximos anos estará muito dependente dos resultados que esses países, com 1/3 da população do mundo, alcançarem nos programas de reformas a que se lançaram.
Muito embora em escala e dimensões diferenciadas, a China e a Índia abriram suas economias e, a exemplo de outros países chamados emergentes, colhem os resultados dessas políticas que se traduzem em forte crescimento do PIB e grande potencial de consumo para aqueles segmentos da população que passam a utilizar a economia de mercado.
Exemplificando com o caso da Índia, as estimativas do mercado com poder de compra é de 150 milhões de potenciais consumidores, o que equivale à população brasileira. Se existem características que aproximam esses dois países, não podemos ignorar, mesmo numa rápida análise, que suas diferenças são marcantes (veja quadro).
Apesar de essa lista indicar, numa primeira análise, vantagens para a Índia, a impressão que se tem visitando Pequim e Xangai, comparativamente a Nova Déli e Mambai (antiga Bombaim), é francamente favorável aos chineses.
Nota-se um maior dinamismo, grandes construções, bairros residenciais, avenidas, prédios de escritórios, maior afluência e zonas industriais tendo maior importância. Isso talvez até explique o retorno de uma postura mais conservadora dos reformistas, acusados de que as coisas estão mudando depressa demais. A maneira de vestir do presidente Jian Zemin, da China, é bem indicativa, pois abdicou de seus bem cortados ternos ocidentais e voltou aos trajes da época de Mao. Brasil e Índia guardam semelhança ao fazer esse processo de mudanças dentro de um sistema politicamente aberto: complexidade de partidos e liberdade de imprensa. Mesmo num regime parlamentarista a Índia tem os mesmos problemas de velocidade das mudanças reclamadas pelos segmentos mais dinâmicos da sociedade.
Num artigo escrito para a "Harvard International Review" (outono de 1995), P. V. Narasimha Rao, primeiro-ministro da Índia, fala das impossibilidades de processar mudanças que não sejam aceitas pelo povo e mantenham a coesão social. A perda de empregos gerada em alguns segmentos deve ser adiada até que a taxa de crescimento tenha aumentado significativamente, gerando novos empregos e criando assim uma base institucional para apoiar as reformas.
Enfim volta-se com a sensação de que não é possível decifrar o mistério da Índia numa semana, o que evidentemente também seria muito pretensioso no caso da China. No entanto, sob o ângulo empresarial, até agora pelo menos, a China, que começou mais cedo suas reformas, mostra resultados mais palpáveis numa "economia socialista de mercado" que, como sabemos, tem suas vulnerabilidades.
De qualquer forma, apesar da distância que nos separa, é da maior importância nos aproximarmos cada vez mais desses gigantes, o que é agora um desafio para todos os empresários.

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