São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 1996
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FHC ataca ação de lobbies no Congresso

EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou duramente ontem os partidos e a atuação dos lobbies no Congresso brasileiro.
Em visita aos congressistas mexicanos, FHC afirmou que, no Parlamento brasileiro, "o que une não são valores, são interesses".
Citou, como exemplo, "os blocos agrários, os blocos dos produtores de açúcar". "Não são valores, são lobbies. Isso é perigoso. Os parlamentares não podem deixar campear o lobby", afirmou.
Segundo FHC, "quem tem que fazer os lobbies são os outros, fora do Parlamento". O presidente disse que, quando isso não ocorre, "perde-se muito". "Aí os partidos se debilitam", afirmou.
FHC criticou a fragmentação partidária. "No Brasil, temos 17 ou 18 partidos no Parlamento. Não são partidos. São interesses que se agrupam e se fragmentam em interesses da sociedade."
As afirmações de Fernando Henrique foram feitas em resposta a perguntas de congressistas mexicanos, após discursar sobre os resultados do Plano Real.
Na visita ao Congresso, FHC estava acompanhado de parlamentares, entre eles os deputados Gonzaga Motta (PMDB-CE) e Yeda Crusius (PSDB-RS).
Em seguida, o presidente foi ao Colégio do México. No caminho, a comitiva foi obrigada a parar ao cruzar com uma manifestação de funcionários públicos mexicanos.
Com o trânsito parado, o presidente teve de andar cem metros até o colégio. Ao perceber que se tratava de FHC, os grevistas gritaram "Brasil, Brasil..."
Elites
No Colégio do México, um dos principais centros acadêmicos do país, FHC criticou as elites por se "fechar na defesa de seus interesses mais particulares e mesquinhos, o que ameaça não apenas a idéia de democracia, mas também o próprio conceito de nação".
O ataque às elites foi feito em análise sobre a globalização mundial. Ele se referiu genericamente às elites -brasileiras e estrangeiras. Foi o pronunciamento mais longo de FHC em sua visita ao México. Falou para uma platéia de intelectuais e emitiu conceitos teóricos sobre as novas relações capital-trabalho, sobre desenvolvimento sustentado e justiça social.
FHC criticou as elites por causa de sua insensibilidade diante da nova ordem econômica e política, a globalização. Disse que a "irresponsabilidade das elites gera uma exacerbação do individualismo".
"Como fazer para reavivar essa responsabilidade social das elites é um dos grandes desafios do nosso tempo", declarou.
Defendeu a participação das elites na luta contra as desigualdades sociais, o que chamou de "ética da solidariedade".
Em sua palestra, FHC fez referências críticas e elogiosas à globalização. Disse que essa nova ordem "sinaliza uma era de prosperidade sem igual na história do homem, um novo Renascimento".
Para FHC, a globalização também tem contribuído para alterar o papel do Estado. "A ênfase da ação governamental está agora dirigida para a criação e sustentação de condições estruturais de competitividade em escala global".
Foi o último dia de visita ao país. FHC tinha retorno previsto para 22h (horário do México).

LEIA
a íntegra do discurso de FHC à pág. 1-6

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