São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 1996
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Índios tikunas ameaçam expulsar cocamas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA REPORTAGEM LOCAL

O líder tikuna Nino Fernandes, 40, secretário do CGTT (Conselho Geral das Tribos Tikuna), ameaçou ontem expulsar os índios cocamas da área Évare 1 (AM).
"Se eles não obedecerem às nossas regras de respeito à natureza, vão ter de sair", disse.
Os cocamas contestam a demarcação da área, homologada no início do ano pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Fernandes disse ontem à Folha que os cocamas estariam sendo estimulados por madeireiras e empresas de pesca a contestar a demarcação homologada.
Os cocamas encaminharam à Funai (Fundação Nacional do Índio) um pedido de identificação das aldeias Sapotal e Jutimá, que eles ocupam dentro da área.
O assunto será debatido na próxima reunião do CGTT com os líderes de 96 tribos tikunas da Évare 1, prevista para 27 de março na aldeia Vendaval (AM).
A Folha não conseguiu contato com representantes dos cocamas.
O presidente da Funai, Márcio Santilli, afirmou que a contestação dos cocamas não deverá provocar a revisão da Évare 1 nem impedir o registro dessa área indígena.
Para Santilli, a reivindicação poderá ser resolvida por meio de um estudo antropológico que identifique as terras por eles tradicionalmente ocupadas dentro e fora da área demarcada para os tikunas.
Reivindicação antiga
O presidente da Associação Brasileira de Antropologia, João Pacheco de Oliveira, disse ontem que há tempos, por meio de cartas e mensagens, os cocamas pedem à Funai o envio de equipe que estude a demarcação de área para eles.
"Essa reivindicação nada tem a ver com o decreto 1.775, de 8 de janeiro (que abriu a possibilidade de revisão de áreas indígenas)", afirma Oliveira. O antropólogo estuda desde 1973 os índios tikunas.
Ele acompanhou a demarcação da reserva tikuna, em 1993, e diz que já estava prevista a destinação de um trecho, contíguo ao da reserva tikuna, para os cocamas.
"Houve um pré-reconhecimento verbal, em 1993, por parte das lideranças cocamas e tikunas da área reivindicada pelos cocamas", afirma o antropólogo.

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