São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 1996
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Paraguai é a pedra no caminho de Zagallo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A meninada volta a campo hoje para pegar o Paraguai, que, se é um estranho neste Torneio Pré-Olímpico, tem uma tradição de garra e velocidade. Aliás, dentre os pequenos latino-americanos, os paraguaios sempre foram uma pedra lascada no nosso caminho.
Basta lembrar que, mesmo com aquele timaço de 70, com Pelé, Gérson, Tostão e o diabo, lá em Assunção, só conseguimos ganhar de 1 a 0, nas eliminatórias para a Copa do México.
Além do mais, o time de Zagallo, mesmo metendo 4 a 1 no Peru, na estréia, deixou uma pulguinha atrás da orelha até mesmo do veterano treinador, que saiu de campo reduzindo a goleada a sua real dimensão: um achado, numa performance abúlica da nossa seleção.
E por que jogamos tão mal? Por várias razões: o natural nervosismo da estréia, a inadequação dos estrangeiros que chegaram em cima do laço, a súbita falta de inspiração de jogadores-chaves, como, por exemplo, Souza, e uma quarta que merece aqui maior reflexão -a formação do meio-campo.
Esta é uma questão, diria, que está virando institucional no nosso futebol, em todos os níveis, dos clubes à seleção principal, passando, claro, pela pré-olímpica, posto que toca no ponto nevrálgico de qualquer equipe de futebol; ou seja, o setor de criação.
Exatamente por ser o centro de elaboração das jogadas de ataque, onde se concentrava, tempos atrás, a mais fina flor de quantos correm atrás de uma bola, atraiu o pólo oposto, a destruição.
Até chegarmos à situação, para dar um corte na história, quando inevitavelmente temos dois volantes destruidores para dois armadores que tentam municiar dois atacantes. Aí, quando acontece, por exemplo, de termos de jogar no meio-campo adversário, como no jogo com o Peru, a distribuição de jogo cai nos pés dos volantes, tipo Flávio Conceição e Amaral, os menos habilitados para essa tarefa.
O futebol, então, vira pingue-pongue -bola lá e cá, o tempo todo.
Eis por que me bato pelo segundo volante, ao menos, que saiba jogar com a cabeça e com a bola nos pés. Ou como poderia fazê-lo André nesse time de Zagallo. O técnico, por certo, retrucaria que o time ficaria penso demais para a esquerda, com tantos canhotos como Souza, Roberto Carlos e Sávio, além de André. Nesse caso, troca-se Souza por Beto ou Jamelli, o que reaprumaria a equipe, dando-lhe ainda maior agressividade e qualidade no toque de bola.
Pergunto: de que adianta mandar Amaral enfiar-se pela meia-direita a toda hora, se a bola sairá inevitavelmente vesga de seus pés laboriosos?
Melhor seria ele aqui atrás, protegendo a defesa, com sua incrível mobilidade e espírito guerreiro, tendo ao seu lado alguém que saiba trabalhar a bola com mais esmero, como André, que, tendo sido um armador de origem, passou para a lateral, onde desenvolveu também o senso de marcação.

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