São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 1996
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Em família

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

São coincidências, mas são de assustar e talvez ajudem a entender por que, afinal, cresce tanto a atenção com a moral e a família -em decadência.
Nelson Rodrigues, diante do que se viu ontem, perde.
Primeiro, na Bandeirantes:
- Ieda Maria, mulher de Alexis Bezerra, assassinado em Jaú pelo filho, vai iniciar uma campanha pela adoção da pena de morte. Dona Ieda quer que a pena seja aplicada ao filho e "todos os assassinos perigosos como ele". No domingo Alexis Filho matou o pai e acertou dois balaços na mãe.
Outra, na CBN, em Brasília:
- Adauto, que trabalha no gabinete do deputado Francisco Silva, e sua mulher, Míriam, cúmplice no crime e assessora da deputada Cidinha Campos, teriam violentado uma menor de 14 num matagal. A menina teria sido amarrada por Míriam e depois violentada por Adauto. O exame de corpo de delito comprovou o estupro.
Outra, no Jornal Nacional, com direito a imagens:
- A reação de um mafioso acusado de traidor pelo irmão.
(Tiros, tiros.)
- A execução: um irmão mata o outro na frente da mãe.
Por fim, mas certamente bem mais impressionante, na CNN, como "breaking news", notícia de última hora:
- Os genros de Saddam Hussein que haviam se exilado na Jordânia seis meses atrás e voltaram ao Iraque esta semana foram mortos, de acordo com uma estação de televisão de propriedade do filho mais velho de Saddam Hussein. Nós ainda não pudemos confirmar.
Vale registrar também o Aqui Agora, que traz o velho lema, "a vida como ela é", do próprio Nelson Rodrigues:
- Uma informação urgente do teletipo internacional Aqui Agora: a televisão iraquiana acaba de divulgar que os dois genros do presidente Saddam Hussein foram assassinados por seus próprios familiares.
É o mundo cão, em família.
Deterioração
José Rainha dá entrevista à CBN, clandestino, fala como perseguido político, o que é, diz que sofre por não estar com a mulher, Diolinda, presa, e com o filho de apenas dois anos, separado de ambos.
O presidente da República, firme e cruel, respondeu na Voz do Brasil. Disse que não aceita a reforma agrária diante de ações que são um "sinal de deterioração do Estado".

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