São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996 |
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Chacina deixa 3 mortos em favela na zona norte do Rio
IRANY TERESA
Na madrugada de terça-feira, outros dois homens já tinham sido mortos da mesma maneira em Parada de Lucas. Moradores acusam policiais militares pelo extermínio. A Secretaria de Segurança Pública acredita que as mortes sejam consequência de uma briga interna dentro da quadrilha do traficante local. José Roberto Silva Filho, o Robertinho de Lucas, controla o tráfico na favela e estaria insatisfeito com alguns "fogueteiros" (responsáveis pela queima de fogos para avisar a respeito da chegada da polícia). Segundo moradores da favela, há quatro dias consecutivos um grupo armado com metralhadoras, com os rostos encobertos por toucas e uniformizados com macacões pretos, vem fazendo rondas entre meia-noite e 3h. Um dos mortos, segundo moradores que preferiram não se identificar, era integrante da quadrilha de traficantes e morreu numa troca de tiros, depois de ser apanhado em casa. Outro, dono de uma birosca na favela, teria sido retirado de casa e executado sumariamente. José Adão, um dos três mortos na madrugada de ontem, era caminhoneiro. 'Educadamente' A mulher de Adão, Maria Isabel Santana de Assunção, 36, disse que os assassinos chegaram por volta de 24h30m, "bateram educadamente na porta" e disseram para ele acompanhá-los. Um deles teria dito a Maria Isabel para levar os documentos do marido para o 16º Batalhão da PM (Olaria), fora da área de jurisdição da favela. "Eles não disseram nada. Depois, levaram meu marido para um beco e o mataram como um porco", disse ela, chorando. Os corpos de José Adão, e dos outros dois mortos de ontem foram retirados por parentes e amigos dos locais de execução e levados para a entrada da favela, a cerca de um quilômetro de distância. Lá eles permaneceram por 12 horas, até a chegada do rabecão. Não houve perícia policial. Felício Pereira, 46, diretor da associação de moradores, disse não ter estranhado o fato de os corpos terem sido retirados com tanta rapidez das vielas onde ocorreram as mortes. "Isso foi para facilitar a remoção para o IML. Perícia aqui não existe. Em um setor miserável desses, eles (a polícia) não se interessam por perícia." * Colaborou IRANY TEREZA, free-lance para a Folha. Texto Anterior: Blitz fecha 2 restaurantes em São Paulo Próximo Texto: Presos destroem cadeia pública de Batatais Índice |
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