São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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BC volta a centralizar discórdia

VALDO CRUZ; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise do Banco Nacional fez o Banco Central emergir novamente como o principal foco de discórdias do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
As fraudes no Nacional deram respaldo para pressões políticas por mudanças na cúpula do BC.
A diretoria do banco diz que continua contando com o apoio de Fernando Henrique.
O presidente Gustavo Loyola contou a amigos que ouviu elogios do presidente aos trabalhos do BC.
FHC teria dito a Loyola que as fraudes foram descobertas exatamente devido à atuação da fiscalização do Banco Central.
E que todas as operações irregulares ocorreram nas gestões anteriores.
No Congresso No Congresso, entretanto, as versões são diferentes. Parlamentares falam que chegou a hora de trocar peças na diretoria do BC.
E que FHC não descarta uma saída desse tipo.
Uma das críticas feitas por deputados e senadores é que os diretores do BC aparecem muito na mídia. Normalmente ciumentos, os parlamentares enxergam uma ameaça nas constantes entrevistas da cúpula do Banco Central.
A estratégia do presidente do BC, Gustavo Loyola, é manter sua versão dos fatos diariamente na imprensa.
Na quinta e na sexta-feira passadas, recebeu representantes de todos os principais jornais do país.
Apesar de acreditar no apoio de FHC, a diretoria do BC identifica no próprio Palácio do Planalto o foco das pressões por mudanças na instituição.
Elas estariam partindo de dois amigos do presidente -o ministro-chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, e o secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge.
Loyola e sua equipe decidiram, pelo menos por enquanto, que vão continuar enfrentando a crise.
"Enquanto o presidente continuar nos apoiando, não vamos pedir demissão. Vamos continuar sendo a pedra no sapato para alguns", desabafou Loyola a amigos.
Precedente
No ano passado, o BC foi alvo de três crises. A primeira foi a cambial. Na ocasião, o ex-presidente Pérsio Arida foi colocado sob suspeita por ter passado um fim-de-semana na casa do banqueiro Fernão Bracher antes das mudanças no câmbio.
Arida acabou saindo do BC e substituído por Loyola.
As outras duas crises foram provocadas pela negociação do saneamento do Banespa e pela intervenção do BC no Econômico.
Mas, no caso do Nacional, a quarta crise do BC, o banco foi atacado por mais setores da sociedade.
Até a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) sugeriu que o dinheiro usado na recuperação de bancos era roubado de aposentados e trabalhadores.
A posição da Igreja Católica foi divulgada na quinta-feira, em forma de um documento chancelado pela cúpula da CNBB.
Irritados, os diretores do BC foram procurar nos arquivos do banco argumentos para rebater os ataques da Igreja Católica.
Descobriram que, com a intervenção no Banco Econômico, quatro instituições católicas solicitaram liberação de dinheiro. Uma foi atendida.
VALDO CRUZ E FERNANDO RODRIGUES

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