São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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'Sangue latino' atrapalha brasileiras

CLÁUDIA MATTOS
DA SUCURSAL DO RIO

As duas duplas brasileiras que disputarão o torneio feminino de vôlei de praia na Olimpíada de Atlanta têm um adversário em comum, além das duplas americanas: o temperamento latino.
As três duplas norte-americanas e as duas brasileiras que participarão dos Jogos Olímpicos são as mais cotadas para conquistar as medalhas da modalidade.
Tanto Jacqueline, 34, e Sandra, 22, quanto Mônica, 28, e Adriana, 29, incluíram em sua preparação um treinamento especial para aprender a domar a explosão emocional nos momentos em que cometem erros.
Segundo elas, é esta característica tipicamente latina que as prejudica nos momentos decisivos.
As brasileiras querem ter a frieza das atletas norte-americanas nos momentos de baixa e a explosão latina nos momentos de alta.
"Quando jogava nos Estados Unidos, tentava imitar a frieza das jogadoras norte-americanas. E fiquei superfeliz quando comecei a perceber que eu estava jogando como elas, sem me irritar com meus próprios erros", contou Jacqueline.
Mas foi só começar a formar parceria com a jovem Sandra para todos os ideais de postura psicológica anglo-saxã irem por água abaixo.
"Quando a Sandrinha chegou, trouxe de volta toda aquela vibração típica das jogadoras brasileiras e, aí, voltei a ser como era antes", disse.
Mônica e Adriana tinham o mesmo problema. "É difícil a gente não ficar remoendo os erros que comete", disse Mônica.
Ela fez uma comparação entre o estilo brasileiro de jogar e o norte-americano.
"Nós não temos frieza para, depois de um erro, respirar fundo, passar, levantar e atacar direito como se nada tivesse acontecido", disse, sobre as brasileiras.
"As jogadores americanas, não. Com elas não tem tempo ruim. Se estiverem perdendo um jogo por 12 a 2, vão lá, viram e ganham", comparou.
Para domar a latinidade brasileira, cada dupla procurou uma solução.
Mônica e Adriana foram atrás de Marcos Freitas, ex-técnico de Anjinho e Loyola, brasileiros que se tornaram vencedores no circuito norte-americano, o mais forte do mundo.
Já Jacqueline e Sandra foram buscar na engenharia a solução de um problema psicológico. Elas contrataram o engenheiro Evandro Motta, especialista em psicologia esportiva.
Entre outros trabalhos, ele tem em seu currículo a preparação psicológica da seleção brasileira de futebol na campanha do tetracampeonato.
"Está sendo muito bom trabalhar com o Evandro. Ele mostra para a gente vídeos com vitórias de Ayrton Senna. Tem uma corrida em que ele larga em décimo-segundo e chega em primeiro. A comemoração dele é bem latina, mas só a comemoração. É isso o que a gente quer", disse Jacqueline.

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