São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Procurando saída

SAMIR DICHY

O empresário brasileiro tem de conquistar seu espaço com autonomia e independência. Em 23 anos de mercado na construção civil, esta sempre foi a posição que defendi, inclusive em conjunturas pouco favoráveis, quando se aguardava a ajuda do governo para a solução de impasses.
Existem situações, no entanto, que fogem ao controle do empreendedor, às voltas com a necessidade de se adaptar a uma nova realidade trazida com o ajuste do real. Como driblar os preços dos materiais de construção, por exemplo? Será possível substituir o tijolo enquanto seus preços estiverem exorbitantes, assim como a dona-de-casa troca a carne pelo frango?
Segundo um dos mais recentes levantamentos realizados pelo Datafolha, o tijolo de barro subiu 96,11% em 1995, liderando uma imensa lista de materiais de construção que registraram preço médio acima da inflação.
A segunda maior alta ficou por conta do tijolo aparente, 68,71%, enquanto o bloco de concreto registrou variação de 53,21%, seguido pelo tijolo baiano com 48%. E por aí vai.
É preciso lembrar que a inflação acumulada no mesmo período foi de 23,16%, de acordo com o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) medido pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Se faz necessário ponderar ainda que não é possível substituir o tijolo por outro material na hora de erguer uma parede.
Faz tempo que a construção civil tenta uma saída para enfrentar os grupos oligopolizados que detêm o controle dos preços a seu bel prazer. Em circunstâncias como essa, a interferência do governo é necessária. Nada de controle de preços, através de tabelas oficiais que proíbem remarcação e se propõem, em vão, a fiscalizar os aumentos.
Abrir o mercado à concorrência pelas importações é a palavra-chave, capaz de definir um ritmo distinto para uma história que se arrasta por décadas. Como baratear o preço final dos imóveis no Brasil e construir habitação acessível para classes menos favorecidas se o início do processo é condenado a remarcações de quase 100% para uma inflação que nem sequer chega a metade desse valor?
O livre mercado é a resposta possível para diminuir o poder dos oligopólios, em qualquer atividade a eles submetida. Enquanto o setor da construção se preocupa em avançar suas técnicas e metodologias capazes de diminuir custos, é submetido a fatores dessa ordem, avessos a modernidade.
O resultado, infelizmente, é conhecido de todos: amarrado, o empreendedor não consegue oferecer qualidade com preços baixos, o consumidor se retrai, o mercado desaquece e o desemprego arrebenta uma das fontes mais promissoras de atividade que é a construção civil.
Em 1995, o segmento fechou 126 mil postos de trabalho no Estado de São Paulo. Começa 1996 com 567 mil trabalhadores empregados (eram 1,13 milhão em 1990).
Vale lembrar que, ao contrário de outros setores da economia, a queda de contratação na construção ainda não tem a ver com a globalização, reengenharias e outros "casuísmos" da modernidade.

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