São Paulo, domingo, 3 de março de 1996 |
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Tecnologia e trabalho
JORGE MATTOSO
Desde a Primeira Revolução Industrial, a inovação tecnológica elevou a produtividade e reduziu o trabalho incorporado à produção. No entanto, esse processo não se refletiu sempre -como fatalidade- em desemprego, porque as nações, pressionadas por movimentos sociais, reagiram e buscaram mecanismos de regulação. Já no século 19 impuseram-se limites à exploração do trabalho infantil e de mulheres e às extensas jornadas de trabalho. Uma Segunda Revolução Industrial voltou a acentuar o desemprego e este, potenciado pela crise de 29 de nosso século, levou sociedades ao uso de políticas econômicas pró-emprego, de mecanismos de regulação e da maior redução da jornada de trabalho, então com acentuada distribuição da renda. Nas últimas décadas do século 20, uma nova Revolução Industrial, em meio à globalização financeira (que favorece a especulação em detrimento do investimento e do crescimento econômico) e à desregulação econômica neoliberal (que favorece países, empresas, setores e indivíduos mais competitivos), ampliou o desemprego e a precarização das condições de trabalho. Sociedades mais organizadas (como alguns países asiáticos e europeus) reagem -ainda mais tímida e defensivamente- a esta ameaça de ruptura do tecido social, preservando mecanismos públicos de regulação e políticas de defesa da produção e do emprego. Mas o efetivo combate à praga do desemprego passa pelo estabelecimento de novos mecanismos nacionais e internacionais de regulação social da economia e do Estado contemporâneos e pela mais drástica redução da jornada de trabalho. No Brasil, a ampliação do desemprego e da precarização das condições de trabalho tem como pano de fundo: a) a forma passiva da inserção da economia nacional (que vem favorecendo a ruptura da estrutura produtiva); b) a desregulação (que favoreceu uma reestruturação produtiva predatória com o fim das câmaras setoriais e de políticas industriais e agrícolas); c) as políticas macroeconômicas ancoradas na sobrevalorização da moeda e em elevados juros (criando ainda maiores dificuldades à competitividade nacional). Enfrentar o desemprego e evitar a ruptura do tecido social exige a revisão de suas causas e a mobilização da sociedade por um novo projeto nacional de defesa da produção e do emprego e pela ampliação da solidariedade social. Texto Anterior: Caso brasileiro exige teorias opostas Próximo Texto: Crescimento tem que ser reorientado Índice |
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