São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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"Efeito Bronx" ameaça a zona sul de SP

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

A violência, expressa no alto número de homicídios, está condenando bairros como Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luiz, na zona sul de São Paulo, a ficar à margem do desenvolvimento da cidade.
O processo já aconteceu no Bronx, bairro de Nova York, EUA, que é praticamente desprezado pelo mercado imobiliário, embora tenha localização relativamente central.
"No Bronx, aconteceu o que começa o ocorrer aqui: a desorganização urbanística e social é tão grande que mesmo o investimento do poder público não é suficiente para torná-lo atraente", afirma João Freire D'Avila Neto, diretor da consultoria Amaral D'Avila Engenharia de Avaliações.
Nos bairros mais violentos de São Paulo, os imóveis estão perdendo valor, as construtoras não investem e antigos moradores procuram outro lugar para morar.
"Eu me recuso a pegar imóveis para alugar ou vender no Capão Redondo e no Jardim Ângela", afirma José Carlos Lucas Moura, dono da imobiliária KA, no largo do Campo Limpo.
Moura diz ter tomado essa decisão no início dos anos 90, por causa da violência que "tomou conta" dessas áreas. Ele afirma que, na época, passou a ter dificuldade para negociar os imóveis, que acabavam invadidos por criminosos.
Segundo Celso Jacob Kreus, da CK Imóveis, nos últimos cinco anos caiu o valor do aluguel em áreas com mais homicídios.
Um sobrado de dois dormitórios, que poderia ser alugado pelo equivalente a R$ 600 no início da década ou se estivesse no Campo Limpo, hoje não sai por mais de R$ 400, explica.
Kreus diz que a cada três meses aparece em seu escritório pelo menos um inquilino ou proprietário querendo se mudar por ter sofrido ameaça de morte.
Os donos de imobiliárias dizem que o estigma atinge os bairros inteiros, mas apontam áreas críticas, como Valo Velho, Parque Rondon, Jardim São Bento, Jardim Independência, Parque do Engenho e Jardim Vaz de Lima.
"Para as construtoras, a cidade só vai até o largo do Campo Limpo", afirma Geraldo Rezende Pacheco, diretor administrativo da Copava, que já construiu cinco prédios de apartamentos para a classe média no Campo Limpo.
Na opinião de Pacheco, o problema da violência na zona sul tem se agravado e não há perspectiva de melhora em pouco tempo. "A região é um mico para, pelo menos, mais dez anos."
No ano passado, não houve nenhum novo empreendimento na área do Capão Redondo, segundo levantamento da Amaral D'Avila Engenharia de Avaliações.
É um indício da retração dos investidores, pois, no ano anterior, havia sido lançado um conjunto de 27 blocos na área.
O mercado do Campo Limpo se mostra em ampliação: 1 lançamento em 93, 2 em 94 e 4 em 95.

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