São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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Pantanal 'troca de roupa' com as chuvas

VANESSA DE SÁ
DA ENVIADA ESPECIAL AO MATO GROSSO DO SUL

Quem viaja ao Pantanal na seca leva um susto. O que era verde fica marrom. O que tinha folhas, fica desfolhado. O que não tinha flores, fica florido.
Entre maio e setembro, as árvores do cerrado perdem as folhas, os arbustos e a grama. Por ficaram secas, ganham a coloração amarelada ou amarronzada.
É a melhor época para caminhar no Pantanal e observar o que os cientistas chamam de adaptação: a cortiça das árvores, uma casca grossa que ajuda a proteger do fogo, e as folhas grossas, ásperas e peludas, que impedem excessiva perda de água, rara durante o período.
Algumas folhas são tão ásperas que os pantaneiros costumam usá-las como lixas nos trabalhos com a madeira.
É nesse período que a árvore-símbolo do Pantanal, a piúva, ou ipê-roxo, floresce.
Essa é uma época perigosa para o Pantanal. O campo fica tão seco que acaba pegando fogo sozinho. Por isso, durante a seca, os guias de campo recomendam cuidado com pontas de cigarro ou fósforos.
Essa é a época em que gaviões e falcões, aves de rapina, sobrevoam o Pantanal em bandos. Alguns se aproveitam do fogo. O gavião-fumaça, por exemplo, fica esperando que os mamíferos saiam da mata fechada quando ela pega fogo.
Com a cheia, o Pantanal troca de roupa. Os campos cobertos por grama somem sob a água, restando alguns pontos de mata fechada, chamados cordilheiras, só alguns centímetros mais altos que o resto da vegetação, mas suficientemente altos para não serem alagados.
É para essas regiões que os grandes mamíferos e o gado costumam ir. Por isso, a observação dos mamíferos fica mais difícil e requer uma boa dose de paciência.
Nesse período aparecem as plantas aquáticas, como o aguapé, a orelha-de-onça (a forma lembra a orelha do felino) e as flores do campo, como a "11 horas", cujas flores abrem diariamente às 11h.
É um bom momento para a observação das aves aquáticas, que migram de várias partes do país e do exterior, como dos EUA e da Argentina, como as garças, cegonhas e frangos-d'água.
(VS)

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