São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996
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Indústria prevê preço alto para o trigo

FELIPE MIÚRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A indústria nacional prevê que os preços do trigo não baixem este ano, depois da forte elevação ocorrida no segundo semestre de 95.
Segundo Antenor de Barros Leal, presidente da Abitrigo (Associação Brasileira das Indústrias de Trigo), a estiagem nos EUA, a quebra de safra na Argentina e o aumento do consumo conjugaram-se para sustentar as cotações em patamar em torno de US$ 200/t este ano.
O gatilho para a escalada das cotações, a partir de maio do ano passado, foi dado pela quebra em 95 da colheita na Austrália, tradicional fornecedor do sudeste asiático.
Esse acontecimento foi seguido de uma safra fraca na Rússia e importações acima do esperado pela China, maior produtor mundial.
Com os estoques mundiais em níveis baixos, as cotações se mantiveram em alta ao longo do segundo semestre de 95. Até maio os preços do produto oscilavam entre US$ 100 e US$ 120/t.
Cerca de 80% do trigo que será consumido no Brasil até o início da próxima safra terá que ser importado de países onde os preços tendem a se manter altos.
A Argentina esperava produzir mais de 12 milhões de t, mas terminou por colher nesse início de ano apenas 8,6 milhões de t.
O excedente exportável argentino diminuiu para pouco mais de 4 milhões de toneladas, dos quais 3,8 milhões t virão para o mercado brasileiro, estima Lawrence Pih, diretor-presidente do Moinho Pacífico.
Já nos Estados Unidos, as plantações de inverno passam por um período de quatro meses de estiagem e as colheitas, que se iniciam em junho próximo, deverão render 59,5 milhões de t, quase 4 milhões de t abaixo do conseguido na safra passada, segundo a última estimativa norte-americana.
"O gasto com a importação de 6,5 milhões de t, necessária para atender ao consumo nacional de 8,6 milhões de t, pode chegar a US$ 1,6 bilhão. É dinheiro suficiente para financiar uma safra de 8,7 milhões de t no Brasil", afirma Paulo Magno, técnico de trigo da Conab.
Os dados relativos à importação e ao consumo citados por Magno são relativos ao período da safra 95/96, que vai de agosto do ano passado até julho próximo.
A importação na safra passada somou perto de 6,7 milhões de t e consumiu recursos de aproximadamente US$ 1,2 bilhão.
Segundo Gil Barabach, analista da Safras e Mercado (consultoria do Paraná), o 1,5 milhão de t produzido na última safra brasileira já foi totalmente negociado pelos produtores, assim como os estoques do governo.
Até o início da nova colheita, a indústria terá que repor estoques, principalmente com trigo argentino e uma parte menor com produto norte-americano e canadense.

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