São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996
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Interior espera reação com safra

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Na boca da colheita da safra, a economia do interior paulista começa aos poucos a se movimentar.
A expectativa de uma produção agrícola de 11% a 12% menor do que a do ano passado e, portanto, de aumentos de preços, já faz girar mais dinheiro na região.
"A recuperação de renda da safra -de 10% a 20% maior do que a do ano passado- anima os produtores a buscar crédito. Isso coloca mais dinheiro na economia", diz Guilherme Leite da Silva Dias, secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura.
No ano passado, lembra ele, a safra recorde e a consequente queda nos preços dos produtos agrícolas gerou uma crise financeira (dívidas não pagas), e, portanto, queda no ritmo de atividade, especialmente nas regiões produtoras.
A Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto informa que em fevereiro a venda à vista, medida pelo serviço Cheque 10, está 7% maior do que a de janeiro e 15% maior do que a de fevereiro de 95.
O Crédito 10, serviço da entidade que mede a venda a prazo, apresenta aumento de 5% sobre janeiro e de 4% sobre fevereiro de 95.
"Não esperávamos este crescimento", diz Antônio Vicente Golfeto, técnico do departamento de economia da associação.
Para ele, o que pode explicar parte desse aumento é o fato de os preços na região terem subido de 18% a 20%, enquanto os salários aumentaram de 18% a 25%.
"Além disso, os juros estão caindo. Eram da ordem de 9% ao mês e estão em torno de 8% ao mês."
As empresas da região, conta, também estão operando com margem de lucro menor. "Há um ano, o lucro líquido delas girava em torno de 15% a 20% sobre o faturamento líquido. Agora, este percentual caiu para 7% a 10%."
O valor dos cheques compensados em janeiro em Ribeirão Preto e em mais 94 municípios vizinhos, de R$ 5,28 bilhões, surpreendeu empresários e bancos da região.
Representou um salto de 62,5% sobre o valor dos cheques compensados em janeiro de 1995.
Golfeto diz que esses números, levantados pelo Banco do Brasil, são até difíceis de explicar.
"Pode ser que esteja havendo migração de dinheiro dentro do sistema financeiro. Pode ser que o setor agro-industrial esteja fazendo empréstimos bancários para pagar em prazos mais curtos."
Gustavo Henrique Penha Tavares, diretor comercial do Banco Ribeirão Preto, lembra que os recursos oficiais para custeio da safra deste ano atrasaram em 1995.
"A compensação de cheques que era para ser feita em prazos longos passou a ser feita em prazos curtos. Para comprar insumos e plantar, o agricultor foi forçado a pegar dinheiro em bancos privados. Ou seja, o giro do dinheiro aumentou."
Segundo Tavares, outra explicação para o aumento do valor dos cheques em Ribeirão Preto -a terceira maior praça financeira em compensação de cheques no país- e região são os investimentos de indústrias e de empresas de varejo, em parte devido aos incentivos fiscais anunciados pelo governo do Estado de São Paulo.
A Adriano Coselli, distribuidora de alimentos e produtos de higiene e limpeza e ferragens, que atende toda a região, dobrou a capacidade de instalação dos armazéns.

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