São Paulo, domingo, 10 de março de 1996 |
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'Luiza saiu na frente e perdeu para Tuma'
FERNANDO DE BARROS E SILVA
* Folha - Até aqui a gestão de Paulo Maluf foi aprovada pela maioria da população. Como vencê-lo? Aloizio Mercadante - Essa é uma gestão marcada por grandes obras viárias concentradas na região mais rica da cidade. Ele investiu cerca de R$ 1 bilhão, aproximadamente 58% dos investimentos da prefeitura, na região dos Jardins. Essa opção representou um abandono completo da inversão de prioridades, tal como o PT vinha fazendo em favor da periferia. Representou uma deterioração muito grande da qualidade de vida da população. Nós precisamos mostrar uma outra visão da cidade. Maluf congestionou a cidade e diz que congestionamento é progresso. Só alguém saído do regime militar é capaz de pensar e dizer isso. Folha - A provável candidatura de Sérgio Motta pelo PSDB não favorece sua adversária de prévia, Luiza Erundina, que aparece melhor colocada nas pesquisas? Mercadante - O Sérgio Motta sempre foi uma figura de bastidor, nunca disputou eleição. Sob este ponto de vista, ele é uma incógnita. Acho que é o candidato chapa branca, que vem com o discurso do governo. A disputa em São paulo vai fazer parte do debate nacional. As questões do país, o modelo econômico, o desemprego estarão na pauta da eleição. Acho que a minha formação e a experiência da campanha presidencial podem ser um grande instrumento para o partido enfrentar o debate. Folha - O fato de o sr. aparecer atrás de Erundina nas pesquisas não pesa contra seu nome? Mercadante - As últimas eleições presidenciais mostraram que os candidatos menos conhecidos venceram. O índice de conhecimento antes do processo eleitoral quer dizer muito pouco. Eu de fato sou menos conhecido que a companheira Erundina. Ela sai na frente, mas acho que o PT deve avaliar se investe em índice de conhecimento ou tenta apostar numa cara nova que possa superar a rejeição. Esse é o meu perfil e a minha proposta. Acho que tem muita gente no partido pensando assim, especialmente pela experiência da eleição para o Senado. A Luiza saiu na frente e perdeu para o Serra e o Tuma. Se essa pergunta vale para o PT, deveria ser feita para o PSDB. Por que eles preferem o Motta e não indicam o Celso Russomanno, que é muito mais conhecido? Folha - Os militantes cobram duas posições que o sr. defendeu. Primeiro, o apoio ao plano do Collor logo que ele assumiu e, segundo, a má avaliação do Plano Real, que acabou derrotando o PT. Mercadante - Em primeiro lugar, isso não tem nenhuma relação com a prefeitura. Quanto ao plano Collor, eu cometi um erro político. Isso não é o que você faz, mas o que os adversários dizem que você fez. Eu nunca apoiei o confisco da poupança. Nunca. Acho que superei uma certa ambiguidade do início ao longo do governo Collor e durante meu trabalho na CPI. Quanto ao Plano Real, não havia o que fazer. Se a gente apoiasse, o eleitor poderia pensar que seria melhor apostar em quem fez e não em quem aderiu. Além disso, apoiar o Plano Real seria negar o programa político do PT. Nós queremos a estabilidade da moeda, mas sempre fomos contra as bases dessa política econômica, que está destruindo o parque produtivo nacional e aumentando o desemprego. Folha - Estão dizendo no PT que o candidato derrotado na prévia não se incorpora à campanha. Mercadante - Serei um militante exemplar, vença quem vencer. Eu acato a decisão do partido e serei um cabo eleitoral apaixonado. Folha - Qual a maior qualidade de Luiza Erundina? Mercadante - É o compromisso com a luta dos trabalhadores. Folha - E o maior defeito? Mercadante - Não me apoiar na campanha a prefeito de São Paulo. Texto Anterior: Escolha de candidato racha o PT em SP Próximo Texto: 'Mercadante é pretensioso e autoritário' Índice |
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