São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Templo Shaolin usa arma do capitalismo

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A DENGFENG

O Templo Shaolin e seus monges lutadores, imagens do budismo na China celebrizadas em filmes de artes marciais, mesclam agora os rigores da vida religiosa com dedicação a exercícios de capitalismo. O berço do kung-fu chinês oferece cursos de defesa pessoal, se transforma em atração turística e vende suvenires.
Embora pobre em estatísticas, o Departamento de Turismo de Dengfeng, a região do templo, comemora a riqueza de algumas cifras. Em 1994, a venda de ingressos para visitantes do Templo Shaolin somou 1,4 milhão de yuans (US$ 167 mil) e a receita gerada pelo turismo em Dengfeng cresce a uma taxa anual de 12%.
Em 1985, o templo inaugurou um centro de treinamento com capacidade para 300 alunos. A duração do curso varia de acordo com o interesse do cliente.
Alunos chineses pagam para os cofres do templo uma taxa anual de 1.000 yuans (US$ 120), enquanto estrangeiros enfrentam uma lista de preços que pode atingir até 200 yuans por dia, dependendo do número de horas e equipamentos usados.
A China, governada pelo Partido Comunista desde 1949, testemunha neste final de século o contra-ataque do capitalismo e de tradições que o comunismo buscou sufocar, em nome de sua cruzada para combater "costumes feudais" e "superstições", como foi classificado o budismo.
Golpeado pelo fracasso na economia, o Partido Comunista começou a implementar a partir de 1978 reformas pró-capitalismo. A China experimenta o rápido crescimento econômico e a introdução de conceitos antes rejeitados, como propriedade privada e investimento estrangeiro.
Antigos dogmas comunistas passaram a ser questionados e revistos. A confusão ideológica abriu as portas para o retorno de antigas tradições, agora toleradas por um Partido Comunista que continua a reinar com mão de ferro.
Diploma
O monge Yong Yan, 40, vive no templo há dez anos e entre a meditação e o treinamento de artes marciais, se dedica a vender aos turistas um diploma de 100 yuans (US$ 12), os "certificados da sorte", que serão usados para restauração de um templo que comemorou em 1995 1,5 mil anos de idade.
Os 57 monges e seus discípulos também se alternam na hora de sentar atrás do balcão de duas lojas de suvenires instaladas dentro do templo. As prateleiras acomodam espadas, lanças, livros sobre kung-fu, colares e pulseiras que, reza a crença budista, trazem sorte.

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