São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Socorro diário alcança R$ 2 bilhões

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco do Brasil está emprestando diariamente uma média de R$ 2 bilhões ao mercado, por meio de operações interbancárias, pelo menos desde setembro do ano passado.
O volume, informado reservadamente por técnicos do BB, representa mais de 15% do total movimentado no mercado interbancário, que nos últimos meses de insegurança reduziu suas operações a um patamar de R$ 12 bilhões diários.
Desde a intervenção federal no Banco Econômico, em agosto último, os bancos que dispõem de dinheiro para emprestar se tornaram mais seletivos: não querem correr o risco de tomar prejuízo com a quebra de um credor.
Esse fenômeno continuou com a revelação de fraudes no valor de R$ 5,3 bilhões do Banco Nacional, que lançou suspeitas no mercado sobre a confiabilidade dos balanços apresentados por algumas instituições financeiras.
No mesmo período, o BB e a CEF (Caixa Econômica Federal) -tidos como imunes ao risco de quebrar, por serem garantidos pelo governo- receberam depósitos e aplicações transferidas de outros bancos.
Substituição
Isso tudo fez com que o BB e a CEF passassem a sustentar uma série de bancos no mercado interbancário, evitando que o Banco Central seja obrigado a usar de sua linha de socorro financeiro -a chamada linha de redesconto.
No BB se confirma que os empréstimos no interbancário não se alteraram no período posterior à intervenção no Econômico, enquanto os demais bancos de grande porte reduziram suas operações.
O governo argumenta que a atuação no BB e da CEF não é irregular nem configura "socorro" ao mercado: os empréstimos no interbancário são feitos a juros de mercado e dão lucro aos dois bancos federais.
É difícil mensurar, porém, o risco assumido pelos dois bancos. O BB informa, por exemplo, que não perdeu dinheiro com a quebra do Banco Nacional, um dos tomadores de recursos da instituição federal.
Até agora o governo não explicou, porém, em que condições o BB recebeu de volta o dinheiro aplicado no Nacional -se antes da quebra do banco ou depois, com os recursos dados ao Nacional pelo BC.
Ação judicial
As operações do BB e da CEF também podem trazer complicações legais para o governo. O PT anunciou que entraria com processo judicial porque, segundo a legislação, um banco não poderia emprestar no interbancário volume superior a 30% de seu patrimônio.
A denúncia foi feita na semana passada, mas a área jurídica do governo não se posicionou sobre a questão levantada pelo partido.

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