São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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A plasticidade das células do sistema nervoso

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A plasticidade é uma das mais características propriedades do sistema nervoso.
Ela se manifesta, por exemplo, na formação de novos circuitos, tanto na aprendizagem física quanto no desenvolvimento do sistema nervoso e de algumas de suas reações a traumatismo ou doença. Por isso, a atenção dos experimentadores se tem concentrado no córtex motor.
Mas ainda se ignora o local implicado em muitas outras situações de aprendizado, assunto que recentemente começou a ser investigado pela procura de áreas responsáveis pela dissociação do medo e das reações traumáticas que o provocam.
O cérebro é muito eficiente no estabelecimento de sinais ambientes e situações de perigo. Quando percebemos que este passou, passamos a ignorar seus sinais, conforme Michael Davis, da Yale, citado por Marcia Barinaga em "Science" (266, 1475).
Com outros, ele está empenhado em descobrir as áreas cerebrais responsáveis pela dissociação do medo e das reações traumáticas que o desencadeiam. A importância dessas descobertas é muito relevante em neurociência.
Parece haver uma estrutura cerebral, a amígdala (não confundir com o homônimo da garganta), que seria o comutador que liga essas associações.
Observa-se que ratos condicionados a associar uma luz com certo efeito nocivo (um choque elétrico) revelam medo do sinal caso a amígdala não haja sido removida. Seria de esperar que a amígdala também contivesse o comutador que desliga a associação, mas assim não parece ocorrer. É pelo menos o que indicam as experiências de Davis e outros.
Esses pesquisadores treinaram ratos no temor de um possível choque quando a luz acende. Nesse caso, os ratos assim condicionados mostram-se ansiosos.
A seguir, os pesquisadores introduzem sinal de calma representado por determinado tom, que suprime o efeito da luz. Os ratos reagem calmamente a essa nova associação.
Davis e colaboradores realizaram experimentos para verificar se a amígdala estava de algum modo envolvida no desligamento do medo e verificaram que ratos treinados por muitos dias no temor da luz perdem esse medo quando as amígdalas são removidas, mas podem ser retreinados a temer a luz mesmo na ausência da amígdala. Os mesmos pesquisadores treinaram um grupo de ratos a temer a luz e a reconhecer no tom sinal de segurança.
A seguir, removeram as amígdalas e treinaram de novo os ratos a temer a luz, sem repetir o retreinamento relativamente ao tom. Apesar disso, os ratos lembraram que o tom é pacificador e permaneceram relaxados quando o ouviam mesmo sem retreinamento.
Diante desses fatos Davis sugere que o elemento responsável pelo apagamento do medo deve residir (qualquer que seja ele) fora da amígdala, uma vez que essa lembrança foi retida mesmo na ausência da amígdala.

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