São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Vida de Elizabeth 2ª tem sido chata

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Deus salve a rainha. Desde sua coroação, em 1953, a vida de Elizabeth 2ª -ou Lilibeth, como era chamada pelo pai, o rei George 6º- tem sido uma sucessão de chatices.
Há 43 anos a coitada não faz outra coisa senão apertar mãos de súditos, saudá-los da sacada do Palácio de Buckingham com seu contido aceno real e participar de enfadonhas cerimônias oficiais.
E todo esse desgaste para quê? Para ver seus ingratos súditos atirarem em seu nariz real especulações sobre a instauração da república.
A respeito dessa escandalosa enquete perpetrada pelo "Independent on Sunday", a tataravó de Lili, a sisuda rainha Victoria -que hoje empresta seu nome, entre outras coisas, a uma estação de trem, um centro de espetáculos e uma região na Austrália-, certamente reagiria lançando mão de sua frase mais célebre: "We are not amused" ou, em uma tradução mais do que livre, "Não estamos achando graça".
Mas as macaquices das noras, Diana e Fergie, deixam a rainha de mãos atadas. Quem pode aceitar uma casa real da qual faz parte uma duquesa como Fergie, que torra USŸ 40 mil em uma loja de sapatos?
Ou uma princesa como Diana, que usa o "rat pack", os repórteres dos tablóides sensacionalistas de Fleet Street, para conspirar contra a Coroa?
Nos anos 60, em uma das raras entrevistas que concedeu para um documentário da BBC sobre sua família, Elizabeth tratou de deixar bem claro que, caso um dia a opinião pública viesse a rejeitar a monarquia, os Windsor sairiam de cena sem reclamar.
Já imaginou, leitor plebeu, o Reino Unido sem monarquia? Nos anos 50, Faruk, o último rei do Egito, afirmou que iriam sobrar no mundo cinco rainhas: as quatro do baralho e a rainha da Inglaterra. Para muitos britânicos, seria bom que sobrassem mesmo.
Como é que os decadentes tablóides londrinos poderiam sobreviver sem os escândalos fornecidos pela "firma", o apelido que a família real usa para definir a si mesma? E os "beefeaters", que guardam a Torre de Londres, iriam todos para a fila do "dole", o desemprego?
Que fim daria o hino britânico? O Parlamento se sentiria obrigado a convocar Paul McCartney para escrever uma letra água com açúcar que substituísse o glorioso "God Save the Queen"?
Sofreriam também perdas incomensuráveis, entre outros, agências de turismo, a Câmara dos Lordes e empresas que fabricam produtos usados pela família real, que ostentam a insígnia "By Appointment to Her Majesty The Queen".
Claro, os ursos canadenses cuja pele serve para a confecção dos capacetes dos guardas que todos os verões desfilam no "Trooping of the Colour", a parada que celebra o aniversário da rainha, ficariam mais do que agradecidos com o final da monarquia. Mas não há dúvida. Sem a monarquia, o Reino Unido seria uma ilhota bem mais cinza do que já é.

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