São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Comida para os presos; Desenvoltura espantosa; Condição; Retorno de Collor; FHC e Covas; Sivam; Enciclopédia

Comida para os presos
"A propósito de uma carta de Luiz Gonzaga Corrêa Vieira ('Painel do Leitor', 25/2), tenho a esclarecer que o missivista, ancorado em números transcritos na coluna 'Vaias e Aplausos', de autoria de Aloysio Biondi, em 20/2, e já retificados em 27/2 pelo referido articulista, teceu críticas injustas ao governo do Estado de São Paulo.
Em verdade, para os presos da Casa de Detenção de São Paulo o preço de uma refeição diária 'terceirizada' é de R$ 6,50, incluindo café da manhã, almoço e jantar, resultando em índice menor de R$ 3,00 por refeição. Dessa forma, não é certo que, mensalmente, os cofres públicos, nesse presídio, gastem R$ 660,00 para alimentar um presidiário, e sim R$ 195,00.
As medidas recentemente tomadas pela Secretaria da Administração Penitenciária, no setor criticado, advieram da interdição da cozinha do mencionado presídio, imprópria para uso, conforme laudos técnicos de engenheiros e sanitaristas." João Benedicto de Azevedo Marques, secretário da Administração Penitenciária (São Paulo, SP)

Desenvoltura espantosa
"Espanta desenvoltura de José Carlos de Almeida Azevedo ao emitir juízos sobre Darcy Ribeiro.
A Escola Superior de Sociologia Política de São Paulo, onde Darcy Ribeiro estudou, não foi, como diz José Carlos, um 'curso livre que, suponho, nem reconhecido era' -foi o primeiro programa de pós-graduação em sociologia da América do Sul, onde ensinaram no período intelectuais do calibre de W. V. Quine e Radcliffe-Brown.
O que além de patético é ridículo é dizer que Darcy Ribeiro não foi professor na UnB e não deixou vestígios lá: Darcy Ribeiro foi simplesmente o criador da UnB. Quanto a José Carlos de Almeida Azevedo, ele foi reitor da UnB criada por Darcy Ribeiro, com o papel inglório de interventor sob a ditadura militar.
Finalmente, José Carlos transcreve passagens 'racistas' de um livro de Darcy Ribeiro como prova de seu racismo, como se a presença de frases racistas significasse que o autor as endossa: o autor de livro em que há personagem ateu será também ateu? E os autores de livros policiais sobre criminosos são criminosos?
Ao contrário, Darcy é um dos mais sistemáticos críticos de toda forma de racismo, inclusive no romance citado. Finalmente: Darcy Ribeiro é intelectual internacionalmente reconhecido com diplomas honoríficos, traduções e citações de sua obra antropológica. E quem é mesmo José Carlos de Almeida Azevedo?"
Mauro W. Barbosa de Almeida, professor de antropologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e Manuela Carneiro da Cunha, professora titular da Universidade de Chicago e professora titular aposentada da USP -Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

Condição
"Devido às discussões atuais sobre as aposentadorias absurdas para os nossos políticos e parlamentares, apresento a seguinte proposta.
Os políticos eleitos somente terão direito às suas aposentadorias se no término de seus mandatos deixarem 100% em ordem as seguintes áreas de suas responsabilidades: contas em dia; nenhuma criança sem escola; nenhum doente sem atendimento; ninguém com fome e frio; ninguém sem moradia.
Tendo-se constatado ao fim de seus mandatos o atendimento mínimo necessário dos itens acima, teremos grande prazer em pagar vultosas aposentadorias aos nossos parlamentares e políticos!"
Mordechai Gysi (São Paulo, SP)

Retorno de Collor
"No 'Painel' de 25/2, sob o título 'Fixação colorida', o responsável pelas notas critica o ex-presidente Fernando Collor por desejar voltar à política.
Lógico que Fernando Collor voltará à política! Ele foi a pessoa mais investigada deste país durante dois anos e, ao fim desse tempo, Aristides Junqueira apresentou como alegações finais incriminatórias três acusações risíveis.
Como afirmou em várias oportunidades o brilhante advogado Evaristo de Morais, qualquer estudante de direito absolveria Fernando Collor, tal a fragilidade das acusações.
Não fora a conivência da mídia com os setores corporativistas brasileiros, o ex-presidente teria terminado seu mandato, pois muito mais graves são as acusações que pesam sobre o governo FHC.
Quanto ao tópico sobre as 'viúvas de Collor', pessoas que não comem pelas mãos dos comprometidos com a máquina, engana-se o redator quando afirma que suas chances são quase nulas de aprovar lei para restituição dos direitos civis do ex-presidente.
Fosse mais informado, saberia da facilidade que está tendo o Desperta Brasil no recolhimento de assinaturas para o projeto de lei.
Ser 'viúva de Collor' significa compromisso com a razão, responsabilidade cívica e, sobretudo, dizer não ao modo como se está fazendo política no Brasil, trocando conchavos, agrados, promessas, almoços, jantares, acertos para que o desejo do presidente seja alcançado. À custa do pobre brasileiro."
Myriam Britto de Gouvêa, presidente do Movimento Nacional em Defesa da Cidadania Desperta Brasil (Rio de Janeiro, RJ)

FHC e Covas
"Em Brasília, um presidente que posa de estadista-mor, viajando pelo mundo afora, enquanto seu governo é responsável pelo sistema social mais injusto e perverso de que temos notícia (Folha, 3/3).
Em São Paulo, um governador fantasma que há mais de um ano só pensa no Banespa. Cabe perguntar: onde estava o então senador à época das falcatruas no banco? E ainda pensam em reeleição.
Nossa resposta deve ser: nunca mais FHC, nunca mais Covas, nunca mais Partido da Social Democracia Brasileira!"
Paulo Cesar Oliveira (Taubaté, SP)

Sivam
"Sobre o projeto Sivam: a primeira questão é se há ou não necessidade da concepção de tal projeto.
No caso da proteção ao vôo: dificilmente encontraríamos alguém minimamente alfabetizado em locomoção nos céus, terras e águas que acreditaria ser necessária qualquer sangria adicional aos falidos cofres públicos com tal propósito. Até escoteiro já sabe utilizar GPS.
No caso da vigilância: o território é enorme, é invadido, é explorado sem critério, é alvo de cobiça internacional, sim, mas não conseguimos 'vigiar' a contento nem sequer os céus de São Paulo.
Talvez o que precisamos se resuma em determinação e 'gasolina' para coibir os abusos que já sabemos que ocorrem e onde ocorrem, uma vez que já dispomos de Forças Armadas que muito se honrariam em receber tal missão e poder 'desenferrujar' seus equipamentos.
Como efeito colateral haveria um aumento de atividades na região auxiliando uma melhor ocupação do território e iniciando seu desenvolvimento. Se equipamentos auxiliares são necessários, não existe nenhum brasileiro com capacidade para provar que não possuímos tecnologia e capacidade de produzir a maior parte dos mais sofisticados sistemas que hoje exportamos até aos Estados Unidos.
O pouco que nos falta se deve a esse tipo de atitude que vem sendo tomada nas últimas três décadas, inviabilizando o desenvolvimento de componentes básicos (vide exemplo das fábricas de semicondutores, que não existem mais).
Não precisamos, podemos e devemos gastar tanto com sistemas obsoletos (antes do fim do pagamento será desativado) para que nosso 'vizinho' venha tomar conta de nosso 'quintal'."
Isaias Milão (Barueri, SP)

Enciclopédia
"A leitura é a maior fonte de conhecimentos. A Folha sai à frente lançando a Nova Enciclopédia Ilustrada. Isso só vem nos enriquecer."
Gilmar Carneiro (Ibaiti, PR)

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