São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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ANTIBIÓTICOS MORTAIS

O ministro da Saúde, Adib Jatene, com alguma razão, vem reclamando mais verbas para sua pasta. Está tão empenhado nessa causa que vem deixando de lado outras frentes de batalha que, sem nenhum custo, poderiam fazer muito pela saúde pública.
É o caso, por exemplo, da venda de antibióticos sem a necessidade de apresentar receita médica. Mesmo nos Estados Unidos, onde o controle é bastante rigoroso, já surgiram cepas de bacilos de Koch e enterococos virtualmente resistentes a todos os agentes antibacterianos conhecidos. Assim, a tuberculose, que já foi como que uma sentença de morte até a descoberta da penicilina, volta agora, em alguns casos, a ser incurável.
Se até os médicos dos EUA, melhor preparados que os brasileiros, conseguiram criar cepas de bactérias resistentes fazendo mau uso dos antibióticos, no Brasil, o despreparo de muitas escolas de medicina e o péssimo hábito da automedicação, associados à livre venda de agentes antibacterianos, já criaram várias cepas de micróbios resistentes a quase todos os medicamentos conhecidos. É prova cabal de que Darwin estava certo em sua teoria da seleção natural.
Alguns poucos e caríssimos antibióticos de quarta geração são mantidos guardados a sete chaves em hospitais para que também eles não percam, pelo mau uso, a sua eficácia.
É imperativo, portanto, que se exija a receita médica, de preferência com retenção pela farmácia, para a venda de qualquer tipo de antibiótico, o que, aliás, já ocorre na totalidade dos países desenvolvidos.
É lamentável que o ministro Jatene, que certamente conhece bem o problema, já em sua segunda gestão à frente da Saúde, ainda não tenha tomado as medidas necessárias para acabar com essa prática.
E faz-se necessário tomá-las com urgência ou, em breve, as pessoas poderão acabar morrendo de doenças que de outra forma seriam perfeitamente curáveis.

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