São Paulo, quinta-feira, 21 de março de 1996
Texto Anterior | Índice

Pernambuco registra mais 2 mortes

VANDECK SANTIAGO

VANDECK SANTIAGO; FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

São 23 vítimas em menos de um mês; outros 6 pacientes correm perigo de vida
Mais dois pacientes provenientes do setor de hemodiálise do Instituto de Doenças Renais de Caruaru (PE) morreram ontem. Na véspera, haviam morrido outros dois. Em menos de um mês, os mortes chegam a 23. O setor do instituto foi interditado no dia 13.
"Ainda pode morrer mais gente", disse ontem, em Recife, o secretário da Saúde do Estado, Jarbas Barbosa. São, segundo o secretário, seis pacientes que estão internados em Caruaru (a 130 km de Recife) e que apresentaram sintomas compatíveis com os de intoxicação por cloro: crises convulsivas, náuseas e sangramentos.
A Secretaria da Saúde ainda não sabe a causa exata das mortes. Em pelo menos 9 dos 23 casos, a hipótese provável é que tenha havido intoxicação por excesso de cloro na água usada no tratamento.
Segundo o secretário, se houver intoxicação, "o dano causado no fígado do paciente é quase irreparável". "A clínica é responsável pela qualidade da água, dos medicamentos e dos médicos", declarou Barbosa. "Essa responsabilidade está prevista na legislação da vigilância sanitária", endossou o presidente do Conselho Regional de Medicina, Silo de Holanda.
"O que matou meu marido foi a irresponsabilidade do pessoal do IDR", disse a viúva de Pontes, Marta Alves de Lima Pontes.
'Sozinho' O diretor clínico do IDR, Antonio Bezerra Filho, 58, disse que luta "sozinho" contra as acusações pelas mortes de pacientes que se submeteram à hemodiálise no local.
"Não tenho culpa, mas até a própria classe médica não tem me apoiado", queixou-se ontem, em entrevista à Agência Folha.
Bezerra Filho reconhece que alguns dos mortos foram vítimas de intoxicação. Ele acha precipitado, porém, responsabilizar o IDR.
"Se fosse apenas excesso de cloro na água, isso não teria acontecido", afirmou. O médico suspeita que o produto possa ter se associado a uma substância orgânica, supostamente presente na água.
Nesse caso, disse, o produto organoclorado, que é venenoso, passaria pelo sistema de filtragem e se misturaria ao sangue do paciente.
Para o médico, há possibilidade de que a água utilizada na hemodiálise estivesse contaminada com agrotóxico. "É o que dizem por aí." A secretaria investiga.

* Colaborou Fábio Guibu, da Agência Folha

Texto Anterior: 105 médicos 'de oposição' são removidos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.